domingo, 29 de junho de 2008

Caminhando...

O Cursinho, iniciando.

Jornal, rádio ou TV, assim como, demais meios de comunicação, tratavam diariamente da violência urbana e especialmente da violência no Jardim Ângela e no Capão Redondo, periferia do estremo sul da cidade de São Paulo.
Eu lecionava matemática na Escola Estadual José Lins do Rego, mas os alunos, ao menos uma boa parte deles, não estavam nem aí para o que era explicado.
Anos 90, dez anos após a derrubada da ditadura militar, vivíamos a plenitude da liberdade, porém os alunos já não entendiam e não aproveitavam o saber, o conhecimento oferecido, sem qualquer custo, financeiro ou econômico exigido por nós professores. Aliás, um único custo necessário era e como sempre, é apenas a atenção e as anotações para que auxiliem a evitar o esquecimento do conteúdo, mesmo porque já somos pagos pelo poder público, ou seja, por eles mesmo de forma indireta.

Meus alunos, não sabiam da necessidade de ir à escola. Como hoje, a grande maioria dos alunos daquela época, também não tinham essa concepção de que a melhor forma de auferirmos renda, melhorarmos e ultrapassarmos as barreiras econômicas e sociais é e sempre será a educação formal em primeiríssimo lugar. Seguido do aprender sempre, aprimorar-se e informar-se a cada passo dado. Claro que estou me referindo às formas legais, em que dependemos apenas de nossos próprios esforços.

Cansado de malhar em ferro frio, de tanto reclamar e conclamar a atenção, recebi como agradecimento, uma cadeira que arremessada chegou aos meus pés, por pouco não fui atingido. Os pais do garoto foram convocados, sua mãe compareceu a escola. Recebi um pedido de desculpa e o garoto foi convidado a mudar para uma outra escola. Ao menos dessa vez, um dos responsáveis apareceu. Muitas vezes não dão ouvidos, não comparecem as reuniões de pais ou sequer procuram saber sobre o rendimento escolar dos seus filhos. É claro que também compreendo as dificuldades desses pais de família, trabalhando arduamente, muitas vezes distante de sua residência, chega cansado, no caso da mulher, cansada e prestes a iniciar a segunda ou terceira jornada, que é a de cuidar das tarefas domésticas, dificilmente tem coragem e vontade para preocupar-se com os afazeres escolares dos filhos.

Vida sofrida, carente de quase tudo, inclusive e principalmente dos recursos financeiros tão necessários para a sobrevivência digna de todos nós. A TV é o refúgio, o circo capaz de conter, aplainar e até barrar as indignações sofridas diariamente nas mais diversas circunstâncias. Desde a ditadura comandada pelo chefe, quando empregado é claro, o trânsito congestionado, o ônibus lotado, as filas constantes, a impaciência dos transeuntes e pedestres, a demora do semáforo quando fechado, o veículo que desrespeita o farol vermelho justamente quando possibilita a nossa passagem. Tudo isso procuramos esquecer, observando o circo propagando na TV através dos mais diversos programas, inclusive da novela, vendo pessoas bonitas, ricas e felizes. Lazer? Além da TV, a cerveja no bar, o cigarro entre os dedos? O futebol? Na TV principalmente porque no estádio fica realmente bem mais difícil porque é caro o preço do ingresso, o custo do transporte além do tempo para o deslocamento. Principalmente quando no horário noturno, porque a partida só começa quando termina o capítulo inédito da novela das 21h.

Muitas vezes me pergunto, porque será que os americanos assim como os europeus, dos filmes, estão sempre felizes, tem dinheiro para o que desejar comprar, têm casa grande e com todo o conforto, além de bela piscina. Exatamente o oposto das residências da periferia de Sampa cujo padrão é a casa com apenas três cômodos, sem reboque, pintura ou telhado, sempre inacabado.

Pagamos tantos impostos, e o saco sem fundo do tesouro nacional nunca tem os fundos suficientes. Apenas os políticos ganham muito bem e sempre conseguem reajuste dos vencimentos. Muitos, senão a maioria dos políticos, está ligados a esquemas de corrupção, superfaturamento de obras e até expropriação de parte dos salários de subordinados para formação e manutenção de caixa de partidos políticos. Imagino a corrupção que deve existir no Banco Central! Pagamos uma soma exorbitante de juros. No momento, o montante anual de U$ 180 bilhões. A instituição pode reduzir a taxa de juros para que o país pague menos. Mas, o presidente do banco central, prefere aumentar a taxa de juros para que os banqueiros se apropriem desses recursos os quais faltarão para a saúde e a educação que tanto necessitam. Culminamos, entregando o banco central do país, ao próprio banqueiro. Ou seja, entregamos o galinheiro para o gavião.

Neste clima, incentivei muito aos alunos para fazer cursinho pré vestibular, principalmente aqueles populares, que podia ser financiado sem muito sacrifício por essa população carente. Nessa época, meu filho mais velho, após fazer um desses cursinhos, foi aprovado em três, das três universidade públicas que prestou vestibular.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

16.Quem somos nós?

Origem comum, artigo de Marcelo Gleiser

A visão moderna do cosmo aproxima as pessoas

Marcelo Gleiser é professor de física teórica no Dartmouth College, em
Hanover (EUA) e autor do livro "A Harmonia do Mundo". Artigo publicado
na "Folha de SP":

Lendo os jornais, assistindo aos noticiários na TV, ou simplesmente prestando atenção ao que se passa à nossa volta,não há nada mais óbvio do que as diferenças da sociedade; conflitos políticos, raciais, domésticos, disparidades financeiras, preconceitos arraigados, enfim: um quadro que mostra o quanto somos diferentes uns dos outros e o quanto ainda temos que lutar para que essas diferenças sejam diminuídas.

Nessas horas, imagino que ninguém pense muito no que as ciências físicas e biológicas têm a dizer. Ninguém imagina que a visão moderna do cosmo nos aproxima uns dos outros de modo profundo, essencial.

Talvez essa visão não ofereça consolo ao vermos uma criança pedindo esmola na rua, ou baleada no tráfico de drogas. Mas, se interpretada de forma correta, deveria oferecer um novo modo de pensar sobre o mundo e sobre nosso lugar nele. Seria ao menos um começo.

A pressão pela sobrevivência é e sempre foi a mola que propulsiona a vida, com todas as coisas boas e ruins que ela traz. A diferença humana é que adicionamos ao que é necessário quantitativamente -comida, abrigo, reprodução- aquilo que é qualitativamente aprazível.

Não queremos apenas comer, queremos comer bem; não queremos apenas procriar, queremos ... bem, você me entende.

Mas me pergunto se não está na hora de repensarmos nossa dependência das leis que regem a evolução, se não podemos, tal como tentamos fazer com as doenças, repensar a doente condição humana, combatê-la com nossa arma mais poderosa, nossa capacidade de reflexão.

Talvez precisemos começar do começo para que as coisas mudem, do começo não só da civilização, mas do começo de tudo. Somos todos, ricos e pobres, reis e camponeses, grilos, baleias e samambaias, produtos do cosmo, das mesmas leis que regem a natureza, compostos dos mesmos elementos químicos, forjados há bilhões de anos nas mesmas estrelas.

Nossa história, a minha, a sua, a de todo mundo nesse planeta, começou ao mesmo tempo, cerca de 14 bilhões de anos atrás, quando nosso universo começou sua expansão. Foi então que essa massa de energia começou a moldar as partículas que formam tudo o que existe, os primeiros elétrons, os prótons e nêutrons, os primeiros núcleo atômicos.

Passados 400 mil anos, com o Universo ainda na sua infância, surgiram os primeiros átomos, os tijolos fundamentais da matéria.

Conglomerados de átomos, atraídos pela gravidade, formaram nuvens de matéria que, girando de forma instável, contraíram-se para formar as primeiras estrelas. Essas viveram pouco, vítimas de sua enorme massa.

Ao morrer, entraram em colapso, forjando em suas entranhas os elementos químicos mais pesados -carbono, oxigênio, ferro- lançados ao espaço em seus últimos estertores. Esses átomos espalharam as sementes da vida pelo espaço. Outras estrelas nasceram e outras morreram cosmo afora.

Passados quase 10 bilhões de anos, nasceram o Sol, os planetas, a Terra e a Lua, todos com infâncias violentas: cometas e asteróides bombardeando suas superfícies, radiação solar letal e poucas chances de a vida surgir.

Mas em um deles, por não estar nem muito longe nem muito perto do Sol, a água pôde manter-se líquida; por ter a massa certa, criou uma camada protetora à sua volta, a atmosfera. Aos poucos, os elementos químicos foram se combinando,formando moléculas complexas. Delas, surgiu a vida. E dela, surgimos nós. Nossa história, se contada assim, do começo, é a mesma.

Precisamos de 10 mil anos de civilização para aprendermos isso. Espero que não sejam necessários outros 10 mil para usarmos esse conhecimento com sabedoria.
(Folha de SP, 24/2)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

15. Nanotecnologia

Nanotecnologia: o importante é ser pequeno, artigo de Eloi S.Garcia

“O Inmetro vem priorizando e desenvolvendo de áreas como materiais nanoestruturados, nanobiotecnologia, nanoquímica e nanofármacos, que, por sua enorme potencialidade científica, tecnológica e econômica, vem se tornando visível à ciência brasileira”

Eloi S. Garcia, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, ex-presidente da Fiocruz, membro da Academia Brasileira de Ciências, e Coordenador Estratégico de Biotecnologia do Inmetro. Artigo enviado pelo autor ao “JC e-mail”:

Quase na virada do século 21, o presidente Norte-Americano, Bill Clinton, falava que a fronteira para a ciência estava na nanotecnologia. A frase histórica de Clinton foi: “imaginem reduzir toda a informação contida na Biblioteca do Congresso Americano em um artefato do tamanho de um torrão de açúcar”.

Assim nascia o Programa Nacional Americano de nanociência, baseado na manipulação da matéria em escala atômica, para estimular a ciência e a economia. Hoje sabemos que o futuro dos alimentos, dos equipamentos eletrodomésticos, dos medicamentos, dos novos materiais, passa de alguma maneira pela nanotecnologia.

Dois princípios básicos norteiam esta tecnologia: (i) o econômico, pois menor normalmente significa mais barato; (ii) o científico, talvez mais filosófico, pela possibilidade de imitar a natureza, ou seja, disponibilizar os átomos onde queremos num determinado composto químico. A nanociência permite planejar o processo como ocorre na natureza: do pequeno para o grande, do átomo para a molécula.

Esta história começou em 1959 no Instituto Tecnológico da Califórnia, quando o premio Nobel Novaiorquino, o físico Richard Phillips Feynman, propôs a construção de máquinas pequenas, nos limites possíveis da resolução, que respeitassem as leis da física. Surpreso, Feynman observou que não havia nada nas leis da mecânica quântica que impossibilitasse a criação de máquinas do tamanho de um vírus.

Para testar essa idéia, Richard ofereceu um prêmio para quem conseguisse colocar os 24 volumes da edição de 1959 da Enciclopédia Britânica na cabeça de uma alfinete. Para isto era necessário aumentar 25 mil vezes a cabeça do alfinete ou reduzir 25 mil vezes o conteúdo da Enciclopédia. Pouco tempo depois, Feynman teve que pagar o prêmio desse desafio.

As técnicas mais freqüentes que permitem a detecção na escala do nanômetro (1 milímetro equivale a 1 milhão de nanômetros) são o microscópio de tunelamento e o microscópio de força atômica. Ambos permitem manipular moléculas individuais para formar nanoestruturas, que são as bases dos novos materiais.

Como referência do que estamos falando: uma bactéria mede em torno de um milionésimo do metro, ou seja, mil nanômetros; o vírus tem um tamanho que varia de 10 a 100 nanômetros. Eric Drexler, em 1986, foi o responsável pelo desenvolvimento da base teórica desta tecnologia e cunhou o nome nanotecnologia.

Em sua visão fantástica Feynman queria imitar a natureza, pois os organismos vivos possuem milhares de moléculas, de tamanhos reduzidíssimos, que catalisam reações bioquímicas, movem-se, organizam-se e se reproduzem. Mas, hoje sabemos que este fabuloso físico além de imitar a natureza queria também utilizá-la. Porque, por exemplo, não utilizar a miosina (uma proteína contrátil) na criação de um nanomotor ou na movimentação de um nanorobot?

Nestas 3 décadas de pesquisa têm sido obtidos muitos avanços nesta área. Uma das fronteiras da nanotecnologia abre novos caminhos para a mecânica quântica. Quanto mais desenvolve mais se conhece este especialidade da física que explica o comportamento da matéria em escala atômica.


No nanomundo quem dá às ordens é a mecânica quântica unindo os princípios da química e da biologia.

A nanotecnologia já está sendo investigada em várias áreas. Em alguns anos será possível criar armas atômicas minúsculas ou câmaras de vigilância do tamanho de uma molécula capazes de gravar todos os movimentos de um indivíduo. Logo poderemos entender e controlar o comportamento dos átomos. Ou seja, as nanomáquinas são mais eficientes e suas construções necessitam poucos materiais, pois suas bases fundamentais são átomo a átomo, molécula por molécula, gerando estruturas e materiais com propriedades variáveis.

Alguns bilhões de dólares estão sendo investidos em estratégias de aplicação da nanotecnologia em diversas áreas (médica, meio ambiente, industrial, etc) que vão desde a produção de um nanorobot que libera medicamento as células-alvo, onde é necessário (nanoterapia) até a elaboração de nanochip e nanocomputadores. Por ano são publicados cerca de 15 mil artigos na área da nanotecnologia que facilmente cabem na cabeça de um alfinete.

O Brasil também está investido no domínio dessa tecnologia. O MCT possui um programa estimulando a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico nesta área.

No MDIC, o Inmetro vem priorizando e desenvolvendo de áreas como materiais nanoestruturados, nanobiotecnologia, nanoquímica e nanofármacos, que, por sua enorme potencialidade científica, tecnológica e econômica, vem se tornando visível à ciência brasileira.

Artigo publicado no "Jornal da Ciência" de 19.02.2008.

Questões para serem respondidas:

1) Vamos definir o que é nanotecnologia?

2) Pesquise e encontre, ao menos 10 nanoprodutos em processo de pesquisa ou de produção;

3) O aluno de hoje, poderá trabalhar com a nanotecnologia? Poderá ser uma boa oportunidade de trabalho?

4) A oportunidade para trabalhar com nanotecnologia, será possível apenas para os bons alunos da área de matemática ou ciências exatas: física, química?

5) Pesquise sobre o mercado de trabalho nas indústrias de:
a) computadores nos anos 70/80;
b) telefones celulares nos anos 90.

E.T: Cite as referências bibliográficas.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

13. Amazônia e a Educação dos brasileiros


João Domingos escreve para "O Estado de SP":

Para tentar reduzir e compensar o desmatamento na Amazônia Legal, o governo planeja dar uma anistia a quem derrubou ilegalmente a floresta.

Pela medida em estudo nos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, empresas e agricultores poderão manter 50% das fazendas desmatadas, voltar à legalidade e ter direito ao crédito agrícola oficial se aceitarem recuperar e repor a floresta dos outros 50% das propriedades.

Feitas as contas, se a decisão for adotada, o governo vai legalizar em torno de 220 mil quilômetros quadrados de Amazônia desmatada ilegalmente, uma área correspondente à soma dos Estados do Paraná e Sergipe.

A obrigatoriedade estabelecida no Código Florestal, de manter reserva legal correspondente a 80% do tamanho do imóvel, podendo desmatar e produzir nos demais 20%, continuará valendo para quem não derrubou a mata ou para quem adquirir propriedade nova.

“O dano ambiental já ocorreu, a área já está desmatada. Esse é o fato. Permitir que a recuperação nas áreas de uso intensivo seja de 50% é uma forma de diminuir a pressão por novos desmatamentos”, disse ao Estado o secretário-executivo do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, um dos defensores da idéia.

Embora a medida funcione como uma anistia, o secretário não aceita essa definição. Para ele, trata-se de uma medida excepcional, destinada a resolver um problema urgente.

No final de janeiro, Capobianco divulgou dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) segundo os quais em novembro e dezembro houve aumento de desmatamento na Amazônia. “Situação excepcional” O secretário admite que haverá tratamento diferenciado para quem desmatou e para quem preservou a floresta. “Há áreas desmatadas, que são classificadas de uso intensivo, tanto por pastagens quanto por agricultura. O que se discute é a possibilidade de uso maior de parte da propriedade, hoje fixada em 20%. Nesse caso em estudo, poderá chegar a 50%. Mas essa é uma situação excepcional.”

Para o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, a medida a ser tomada pelo governo é fundamental para enfrentar o desmatamento em definitivo.

“A alternativa é uma forma de levar a paz ao campo e, enfim, resolver o problema do desmatamento na Amazônia”, disse. “O proprietário de terras se sentirá incentivado a não fazer novos desmatamentos, pois contará com área suficiente para desenvolver suas atividades econômicas. O raciocínio do governo é de que a anistia funcionará, na prática, como uma punição, enquadrando quem desmatou fora do critério de preservação de 80%, e hoje trabalha sem cobertura vegetal nenhuma, pois o obrigará a repor até 50% da mata destruída.

Entre o zero de floresta e a recuperação de 50% das matas, o governo considera que haverá um ganho considerável, mesmo que, para isso, tenha de abrir exceções.

De acordo com dados oficiais, dos 5 milhões de quilômetros quadrados da Amazônia Legal, cerca de 730 mil quilômetros quadrados - 73 milhões de hectares - já foram derrubados.

O governo não tem números exatos sobre o tamanho do desmatamento ilegal, mas calcula-se que, do total de floresta derrubada, pelo menos 80% disso está nessa categoria, ou seja, cerca de 580 mil quilômetros quadrados.

Levando-se em conta a exigência de que a recuperação das áreas degradadas chegue aos 50% do tamanho da propriedade, a anistia poderá alcançar 220 mil quilômetros quadrados de desmatamentos. Benefício e impunidade

Entre especialistas, há dúvidas quanto à eficácia da medida que o governo estuda tomar. “Se a decisão não vier acompanhada de outras medidas, como o controle do crédito e a punição para os que agem na clandestinidade, não resolverá nada”, diz Adalberto Veríssimo, diretor e
pesquisador sênior do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

Para ele, a perspectiva de anistia para quem desmatou é ruim do ponto de vista da iniciativa do governo. “O debate é salutar, mas a anistia não”, afirmou. “Os desmatadores ilegais sempre agiram pensando que um dia seriam beneficiados com ela.”

Segundo Capobianco, a intenção do governo é concluir os estudos para o projeto o mais rapidamente possível, talvez ainda neste semestre. “Técnicos dos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente têm feito reuniões seguidas. Quando concluírem os estudos, eles serão entregues aos ministros”, informou Capobianco. Em seguida, o projeto será encaminhado à
Casa Civil. Compensação: O secretário-executivo do Meio Ambiente disse ainda que a recuperação da área degradada não terá de ocorrer, necessariamente, na propriedade
de quem desmatou. “Ele poderá comprar uma área correspondente ao que falta para chegar a
50% do tamanho de sua propriedade e torná-la reserva legal. Poderá também adquirir áreas em florestas nacionais ou áreas de reservas federais, estaduais ou municipais e repassá-las para o ente federativo correspondente”, afirma.

Ele reconhece que o assunto é polêmico e que o governo tem de agir com cuidado. “Não vamos abrir as porteiras. Cada caso é um caso e será analisado assim. É preciso ver se os documentos do proprietário são legais, se não há grilagem.”

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) exigirá dos proprietários a origem dos documentos, se foram adquiridos de forma “mansa e pacífica”, ou seja, se o proprietário não recorreu à violência.

“É preciso entender que muitas pessoas estão nas áreas há muito tempo que há desmates antigos, que é ali que criaram famílias e é dali que tiram seu sustento. O governo não quer prejudicar ninguém. Quer é resolver esse problema de uma vez por todas”, afirma Capobianco.

Para ele, a forma mais objetiva de o proprietário mostrar que tem boas intenções é procurar o Incra para fazer o recadastramento. Os que não procurarem o instituto estarão, segundo ele, admitindo que vivem em situação irregular.

Manobra beneficiaria três estados.

A proposta do senador Jonas Pinheiro (DEM-MT), em tramitação no Senado, retira da Amazônia Legal os Estados do Maranhão, Mato Grosso e Tocantins. Com a mudança, as propriedades rurais dos três Estados não teriam de cumprir o limite de 80% de reserva legal.

Também fazem parte da Amazônia Legal os Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia, Roraima e Pará.

A Amazônia Legal, conceito criado em 1953, tem cerca de 5,2 milhões de km2, perto de 61% do território brasileiro. Entre 1970 e 1996, sua população cresceu cerca de 130%.

Ao apresentar o projeto, o senador Jonas Pinheiro deixou claro que seu objetivo é favorecer Mato Grosso. Ele lembrou que a criação de Mato Grosso do Sul, em 1977, representou perda para a economia de MT. A título de compensação, o governo integrou todo o território de MT à Amazônia Legal, pois se beneficiaria dos incentivos fiscais concedidos à região.

Mas, para Pinheiro, MT foi prejudicado, porque grande parte de sua cobertura vegetal, onde predominaria o cerrado, nada tem a ver com o bioma da Amazônia.

(O Estado de SP, 10/2/2008)

14. Amazônia e a Educação dos brasileiros. Continuação.

Reportagem de capa do jornal "O Estado de S.Paulo" de 10.02.2008, estampou em manchete: "Governo anistia devastadores..." , conforme transcrito no item 13 desse blog.

Como cidadão e como professor, gostaria de discutir as seguintes perguntas:

1) Anistiar quém derruba ilegalmente a floresta impedirá o desmatamento? Sejamos realistas.

2) Como voltar a legalidade após ter desmatado 50% ou mais de uma propriedade? Ou o proprietário vai contar que deixando apenas 25% da floresta será o bastante e seu loby conseguirá uma nova anistia?

3) Como trabalhar com preservação ambiental, ética ou moral na escola?

4) Quais as condições do planeta, devemos deixar para futuras gerações? Saara ou Atacama serão suficientes?

5) Quais sugestões poderemos propor diante de tamanho descalabro?

6) Porque Lula, seus ministros funcionários de todos governos indistintamente, inclusive politicos profissionais perpetuados no legislativo e juízes corruptos nas mais diversas instâncias, teimam em defender o capital em detrimento da vida, apesar de clamarem por votos prometendo sempre o contrário?

7) Não haverá reforma tributária suficientemente capaz de suportar a fúria avassaladora da instituição "corrupção" nos mais diversos níves de poder e sobrar o mínimo para a Educação e Saúde do povo brasileiro? Ora, se um profissional da segurança pessoal, mesmo da presidência, possui um cartão corporativo federal... Estou pessimista?

8) Devemos ser pacientes e nos conformarmos ou lutarmos com todas as forças, aliando-nos e ajudando a pequena parcela da imprensa entre os poucos que ainda tem voz, questiona e educa, nós incautos e sofredores brasileiros?

9) Que espécie de democracia é esta para que tanto lutamos, esperamos "ver o bolo crescer" e cada dia, ficamos indignados ou até já nem ligamos mais, as desigualdades que são noticiadas ou até vemos de fato em nosso dia-a-dia?

10) Desmatamento agora é premiado?

Sei que essa lista será extensa, se continuada. Vamos continua-la?


Envie esta mensagem para seus amigos e para seus inimigos. Quem saberá, consigamos uma sociedade melhor e mais justa, algum dia.

Manifeste-se, resgistre seus comentários no blog abaixo. Lembre-se, nós professores não somos os únicos culpados pela má educação geral do Brasil, não devemos assumir essa carapuça.

Saudações democráticas,


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

12. O problema não está nos números

“Seja qual for o desfecho das polêmicas em torno do desmatamento na Amazônia, alguns pontos parecem já claros” Washington Novaes é jornalista especializado em Meio Ambiente. Artigo publicado no “Estado de SP”:

Seja qual for o desfecho das polêmicas em torno do desmatamento na Amazônia, alguns pontos parecem já claros. O primeiro deles é quanto à confiabilidade dos números levantados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Além do depoimento do próprio ministro da Ciência e Tecnologia, que lhes atribui um índice de acerto entre 95% e 97%, e do manifesto da comunidade acadêmica, cientistas da Universidade Federal de Goiás que trabalham diretamente no monitoramento da Amazônia, consultados pelo autor destas linhas, também opinam na mesma direção.

Entendem eles que os dados do sistema Prodes costumam ser mais precisos, mas com a limitação de que só são apurados uma vez por ano. Os do sistema Deter, mais freqüentes (os últimos divulgados), “num primeiro momento costumam superestimar os números”, mas “em seguida eles são corrigidos” e também são confiáveis. Agora está sendo desenvolvido o sistema Detex, capaz de registrar o que acontece em áreas menores.

Na opinião desses cientistas, os últimos números anunciados “têm o mérito de ser o primeiro alarma quanto à gravidade da situação”, sem esperar pelo balanço anual. Mas seria preciso avançar mais.

Porque, na verdade, não existe um levantamento da situação fundiária em cada área - e sem ele o desmatamento é detectado, mas não se sabe quem o fez, não se pode punir, coibir, até mesmo porque a fiscalização governamental é extremamente precária, como muitos representantes do próprio Ibama têm reconhecido.

E também porque continua a falta de articulação na área com o Sipam/Sivam, que tem aviões equipados com radar e poderia ajudar muito no monitoramento. Mas, como os dirigentes desse sistema têm dito, jamais receberam qualquer pedido da área ambiental para essa ou outras tarefas.

Um segundo ponto está na evidência - demonstrada na mais recente crise - de que o País continua sem estratégia para a Amazônia. Pior ainda, a desejada “transversalidade” - que levasse todas as áreas do governo a incorporar em sua atuação as premissas ditas ambientais - está longe de ocorrer.

A prova maior é a divergência pública entre os ministros da Agricultura e do Meio Ambiente quanto à responsabilidade da soja e da pecuária no avanço do desmatamento. Mais grave ainda a divergência entre o presidente da República e sua ministra do Meio Ambiente, além das polêmicas entre esta e os governadores de Mato Grosso e Rondônia.

Pode-se lembrar também que ainda recentemente instituições e ONGs que participaram das audiências públicas para definir políticas na área da Rodovia BR 163 - de modo a evitar que seu asfaltamento favoreça mais desmatamento - publicaram documento dizendo que, quase dois anos passados, nada foi feito.

E tudo isso sem ainda chegar à desastrada fala em que o ministro das Estratégias de Longo Prazo propôs a construção de aquedutos para transpor águas da Amazônia para o Nordeste. Ou à incompreensível política governamental que concede juros subsidiados a projetos que têm como base o desmatamento.

É tudo muito preocupante. A pecuária está sendo apontada como responsável por 86% do desmatamento, com um rebanho bovino na área que corresponde a mais de um terço do total nacional, cerca de 75 milhões de cabeças. O próprio Ministério da Agricultura estima que a produção bovina ali cresça 31,5% até 2018 (já são abatidos mais de 10 milhões de cabeças por ano) e só 87 dos mais de 200 abatedouros na área são registrados.

Que se espera que aconteça na área dos problemas com a exportação de carne bovina pelo Brasil, se um terço da produção na Amazônia tem esse destino, segundo a Amigos da Terra? O Imazon também afirma que, dos 30,6 milhões de hectares desmatados entre 1990 e 2006, nada menos que 25,3 milhões se devem ao avanço da pecuária, ante 5,3 milhões da soja e de reflorestamentos.

Além de definir uma estratégia para Amazônia, muitos outros avanços terão de ser feitos. É inconcebível que a União não consiga monitorar/fiscalizar os 47% das terras do bioma que são do seu domínio. É nelas, principalmente, que ocorre o desmatamento. E, somadas às reservas indígenas e a outras áreas protegidas por lei, chega-se a mais de 70% da Amazônia Legal.

Também é preciso tirar do papel, da ficção, o monitoramento das reservas legais, que, em áreas de floresta tropical, precisam representar 80% das propriedades particulares. Da mesma forma, criar condições para que os assentamentos da reforma agrária deixem de contribuir com 18% para o desmatamento, segundo os levantamentos.

Em parte dos assentamentos mais antigos não poderia acontecer outra coisa. Sem recursos, sem assistência técnica, sem transporte, sem mercado para nada, aos assentados não resta senão remover a floresta para implantar pastos e alugá-los a um pecuarista - ou vendê-los e sair em busca de outro lote, contribuindo para o chamado “desmatamento itinerante”, registrado desde 1997 pelo relatório de uma comissão especial da Câmara dos Deputados.

Não faz sentido, igualmente, prosseguir na atual política de repassar a governos estaduais a competência para licenciar desmatamentos. Se é difícil para o poder central resistir às pressões políticas e econômicas, imagine-se no âmbito estadual.

Ainda mais lembrando que o poder político local sempre invoca o apoio da população mais pobre, que, por falta de alternativas, considera importantes fontes de geração de trabalho e rendimentos várias atividades ilegais - garimpo e desmatamento entre elas. Essas atividades há muito tempo são também um desaguadouro - pelas migrações - para problemas de regiões onde o desemprego é grave.

Se todos esses fatores não forem considerados na definição de uma estratégia adequada para a Amazônia, será pouco produtivo o espasmo regulatório mais recente, diante dos novos números. E podem ser esperados novos problemas na área das exportações de carne e grãos.

(O Estado de SP, 8/2)

12. O problema não está nos números


“Seja qual for o desfecho das polêmicas em torno do desmatamento na Amazônia, alguns pontos parecem já claros” Washington Novaes é jornalista especializado em Meio Ambiente. Artigo publicado no “Estado de SP”:

Seja qual for o desfecho das polêmicas em torno do desmatamento na Amazônia, alguns pontos parecem já claros. O primeiro deles é quanto à confiabilidade dos números levantados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Além do depoimento do próprio ministro da Ciência e Tecnologia, que lhes atribui um índice de acerto entre 95% e 97%, e do manifesto da comunidade acadêmica, cientistas da Universidade Federal de Goiás que trabalham diretamente no monitoramento da Amazônia, consultados pelo autor destas linhas, também opinam na mesma direção.

Entendem eles que os dados do sistema Prodes costumam ser mais precisos, mas com a limitação de que só são apurados uma vez por ano. Os do sistema Deter, mais freqüentes (os últimos divulgados), “num primeiro momento costumam superestimar os números”, mas “em seguida eles são corrigidos” e também são confiáveis. Agora está sendo desenvolvido o sistema Detex, capaz de registrar o que acontece em áreas menores.

Na opinião desses cientistas, os últimos números anunciados “têm o mérito de ser o primeiro alarma quanto à gravidade da situação”, sem esperar pelo balanço anual. Mas seria preciso avançar mais.

Porque, na verdade, não existe um levantamento da situação fundiária em cada área - e sem ele o desmatamento é detectado, mas não se sabe quem o fez, não se pode punir, coibir, até mesmo porque a fiscalização governamental é extremamente precária, como muitos representantes do próprio Ibama têm reconhecido.

E também porque continua a falta de articulação na área com o Sipam/Sivam, que tem aviões equipados com radar e poderia ajudar muito no monitoramento. Mas, como os dirigentes desse sistema têm dito, jamais receberam qualquer pedido da área ambiental para essa ou outras tarefas.

Um segundo ponto está na evidência - demonstrada na mais recente crise - de que o País continua sem estratégia para a Amazônia. Pior ainda, a desejada “transversalidade” - que levasse todas as áreas do governo a incorporar em sua atuação as premissas ditas ambientais - está longe de ocorrer.

A prova maior é a divergência pública entre os ministros da Agricultura e do Meio Ambiente quanto à responsabilidade da soja e da pecuária no avanço do desmatamento. Mais grave ainda a divergência entre o presidente da República e sua ministra do Meio Ambiente, além das polêmicas entre esta e os governadores de Mato Grosso e Rondônia.

Pode-se lembrar também que ainda recentemente instituições e ONGs que participaram das audiências públicas para definir políticas na área da Rodovia BR 163 - de modo a evitar que seu asfaltamento favoreça mais desmatamento - publicaram documento dizendo que, quase dois anos passados, nada foi feito.

E tudo isso sem ainda chegar à desastrada fala em que o ministro das Estratégias de Longo Prazo propôs a construção de aquedutos para transpor águas da Amazônia para o Nordeste. Ou à incompreensível política governamental que concede juros subsidiados a projetos que têm como base o desmatamento.

É tudo muito preocupante. A pecuária está sendo apontada como responsável por 86% do desmatamento, com um rebanho bovino na área que corresponde a mais de um terço do total nacional, cerca de 75 milhões de cabeças. O próprio Ministério da Agricultura estima que a produção bovina ali cresça 31,5% até 2018 (já são abatidos mais de 10 milhões de cabeças por ano) e só 87 dos mais de 200 abatedouros na área são registrados.
Que se espera que aconteça na área dos problemas com a exportação de carne bovina pelo Brasil, se um terço da produção na Amazônia tem esse destino, segundo a Amigos da Terra? O Imazon também afirma que, dos 30,6 milhões de hectares desmatados entre 1990 e 2006, nada menos que 25,3 milhões se devem ao avanço da pecuária, ante 5,3 milhões da soja e de reflorestamentos.

Além de definir uma estratégia para Amazônia, muitos outros avanços terão de ser feitos. É inconcebível que a União não consiga monitorar/fiscalizar os 47% das terras do bioma que são do seu domínio. É nelas, principalmente, que ocorre o desmatamento. E, somadas às reservas indígenas e a outras áreas protegidas por lei, chega-se a mais de 70% da Amazônia Legal.

Também é preciso tirar do papel, da ficção, o monitoramento das reservas legais, que, em áreas de floresta tropical, precisam representar 80% das propriedades particulares. Da mesma forma, criar condições para que os assentamentos da reforma agrária deixem de contribuir com 18% para o desmatamento, segundo os levantamentos.

Em parte dos assentamentos mais antigos não poderia acontecer outra coisa. Sem recursos, sem assistência técnica, sem transporte, sem mercado para nada, aos assentados não resta senão remover a floresta para implantar pastos e alugá-los a um pecuarista - ou vendê-los e sair em busca de outro lote, contribuindo para o chamado “desmatamento itinerante”, registrado desde 1997 pelo relatório de uma comissão especial da Câmara dos Deputados.

Não faz sentido, igualmente, prosseguir na atual política de repassar a governos estaduais a competência para licenciar desmatamentos. Se é difícil para o poder central resistir às pressões políticas e econômicas, imagine-se no âmbito estadual.

Ainda mais lembrando que o poder político local sempre invoca o apoio da população mais pobre, que, por falta de alternativas, considera importantes fontes de geração de trabalho e rendimentos várias atividades ilegais - garimpo e desmatamento entre elas. Essas atividades há muito tempo são também um desaguadouro - pelas migrações - para problemas de regiões onde o desemprego é grave.

Se todos esses fatores não forem considerados na definição de uma estratégia adequada para a Amazônia, será pouco produtivo o espasmo regulatório mais recente, diante dos novos números. E podem ser esperados novos problemas na área das exportações de carne e grãos.
(O Estado de SP, 8/2)

11. Algo realmente novo para construirmos um escola melhor

Minhas pesquisas na net, este espaço realmente democrático e socialista - talvez a maior experiência real em escala mundial de socialismo - encontrei uma palavra inglesa que me chamou à atenção: etwinning (http://www.etwinning.net/ww/pt/pub/etwinning/index2006.htm). Veja esta feliz aprendizagem dos professores e alunos europeus. Estou trabalhando para que possamos participar dessa prática tão salutar. Lembro no momento de que não deixa de ser uma nova maneira do que nos anos 70, faziamos com o nome de "correspondentes", embora indivividualmente, trocavamos postais, fotos e moedas(quando correspondiamos com pessoas de outros paises).

10. Você alguma vez imaginou que Rui Barbosa precisava aprender mais?

Para combater a febre amarela, Oswaldo Cruz atacou o vetor

Marcelo Leite é autor de "Promessas do Genoma" (Editora da Unesp, 2007) e de "Clones Demais" e "O Resgate das Cobaias", da série de ficção infanto-juvenil Ciência em Dia (Editora Ática, 2007). Blog: Ciência em Dia (http://www.cienciaemdia.zip.net/). E-mail: http://br.f588.mail.yahoo.com/ym/Compose?To=cienciaemdia@uol.com.br&YY=8677&y5beta=yes&y5beta=yes&order=down&sort=date&pos=0&view=a&head=b. Artigo publicado na "Folha de SP":

O pequeno aumento no número de casos de febre amarela neste começo de ano conjurou por toda parte o fantasma da Revolta da Vacina. Jornalistas traçaram o paralelo invertido entre as filas de hoje nos postos de saúde e aqueles sete dias de novembro de 1904 em que a população do Rio de Janeiro se insurgiu contra a vacinação obrigatória.

Um detalhe na base da construção, contudo, ameaça fazê-la desmoronar: a vacina contra a febre amarela só foi desenvolvida em 1937. Seu criador, o sul-africano Max Theiler (1899-1972), ganhou um Nobel em Medicina (1951) pelo feito obtido nos EUA.

A incompatibilidade de datas é só um detalhe, mas comparações históricas dependem de coisas assim para permanecer de pé. A vacina contra a qual o Rio se revoltou em 1904 era a antivariólica, descoberta mais de um século antes (1796) pelo inglês Edward Jenner (1749-1823).
De seu trabalho originou-se o termo "vacina", já que inoculava em humanos material retirado de pústulas de vacas.

A confusão atual entre febre amarela e Revolta da Vacina tem, contudo, algum fundamento. A conexão está na figura de Oswaldo Cruz (1872-1917), diretor do Instituto Soroterápico de Manguinhos na origem da fundação que hoje leva seu nome, a Fiocruz.

O sanitarista formado no Instituto Pasteur de Paris combateu as duas doenças infecciosas, naquela que era considerada na época uma das cidades mais insalubres do planeta (nova epidemia de varíola assolava o Rio de Janeiro no ano de 1904, depois daquelas de 1878 e 1887).

Na falta de uma vacina, Oswaldo Cruz derrotou a febre amarela atacando seu vetor, o mosquito Aedes egypti. É o mesmo que transmite hoje a dengue entre nós e cria as condições -teóricas- para uma epidemia urbana de febre amarela.

Suas brigadas de mata-mosquitos, escoltadas pela polícia, invadiam as casas dos pobres para exterminá-los (os insetos, isto é; tal violência saneadora só é admissível, atualmente, contra os próprios moradores).

Focos de infestação, como cortiços ("cabeças-de-porco"), eram demolidos, seus habitantes postos no olho da rua. A questão sanitária, como a social, também era um caso de polícia. O caldo entornou de vez em 31 de outubro de 1904, quando o Congresso aprovou a Lei da Vacina Obrigatória.

Em menos de uma semana a oposição ao presidente Rodrigues Alves lançaria a Liga contra a Vacina Obrigatória. Organizava-se a revolta popular que contaria com o apoio dos positivistas, misto de filosofia e religião secular muito influente na época, sobretudo entre militares. Até Rui Barbosa discursava contra a vacina.

Oswaldo Cruz ganhou a parada. Em 1907 a febre amarela estava erradicada do Rio (em sua forma urbana a doença desapareceria do Brasil em 1942). No surto seguinte de varíola, em 1908, a população correu para o postos de vacinação -como faz agora com a febre amarela.

O paralelo se esgota nele mesmo. Não há como extrair daí lição algum sobre a derrota do obscurantismo pelas luzes, pela Razão com erre maiúsculo, ou coisa que o valha. Ainda é com certa dose de ignorância que a massa se move, contra ou a favor desta ou daquela vacina.

Os herdeiros de Oswaldo Cruz continuam relativamente incapazes de convencer parte da população, agora de que a vacina pode fazer mal e não deve ser tomada sem necessidade. Não podem acusá-la de irracionalidade, contudo, quando ela se descobre vivendo em áreas de risco, ou viajando para elas, sem ter sido antes obrigatoriamente vacinada.
(Folha de SP, 3/2)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

9. Artigo de Marcelo Gleiser sobre a Estrela D'alva

Marcelo Gleiser é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA) e autor do livro "A Harmonia do Mundo". Artigo publicado na "Folha de SP":

Nada mais poético do que a visão da estrela-d”alva, brilhando ao pôr-do-sol feito um diamante nos céus. Quantos poemas e canções já não foram inspirados por esse emblema de beleza e pureza? É irônico que a nossa deusa da beleza, a Vênus celeste, seja, na realidade, um planeta verdadeiramente infernal.
O segundo planeta a partir do Sol - também o mais próximo da Terra- tem uma atmosfera composta principalmente de gás carbônico (96,5%) e nitrogênio, com praticamente nada de oxigênio. Nuvens de ácido sulfúrico flutuam a grandes altitudes.
O planeta já foi comparado a uma panela de pressão: a temperatura na superfície é, em média, de 500 C; a atmosfera é tão densa que é impossível visualizar sua superfície de longe, como fazemos com a Lua ou Mercúrio. O único jeito é ir até lá, o que não é fácil.
Um dos mistérios com relação a Vênus é a ausência de água. Claro, com temperaturas de 500 C qualquer água na superfície teria evaporado.
Mas deveria ser encontrada ainda na atmosfera, em forma de vapor. Talvez, no passado, Vênus tenha sido um planeta diferente. Afinal, possui várias características muito semelhantes à Terra: o tamanho e a massa, por exemplo, indicando que sua composição rochosa não é muito diferente.
Carl Sagan, há muitos anos, propôs que Vênus foi vítima de um efeito estufa acelerado. Não que os incas venusianos (quem via "National Kid" quando era criança nos anos 60 e 70, coisa saudosa da minha geração, sabe do que estou falando) tenham poluído o planeta.
O acúmulo de gás carbônico é que teria criado um cobertor permanente sobre o planeta, que a radiação solar e as erupções vulcânicas (Vênus talvez ainda tenha vulcões ativos) torraram ainda mais quente a atmosfera.
Os russos foram os pioneiros da exploração de Vênus. Em meados dos anos 70, duas sondas, Venera 9 e Venera 10, conseguiram enviar fotos durante uma hora, antes de seus circuitos virarem sopa metálica. Não encontraram os incas, mas encontraram rochas com pouco sinal de erosão.
Vênus é um planeta estranho: enquanto Mercúrio, Terra e Marte giram em torno de seus eixos no mesmo sentido do seu movimento em torno do Sol, Vênus gira ao contrário.
Na verdade, quase não gira: seu "dia" é de 177 dias terrestres, mais da metade de seu ano, de 244 dias. A razão para essa anomalia não é conhecida; mas a conjectura é que Vênus tenha sofrido uma gigantesca colisão na infância, que alterou completamente sua rotação. Algo semelhante ao que ocorreu com a Terra e deu nascimento à Lua.
Recentemente, outra missão, desta vez da ESA (Agência Espacial Européia), aventurou-se sob as espessas nuvens de ácido de Vênus. Seu objetivo era resolver o mistério da água venusiana: se o planeta é tão parecido com a Terra, onde foi parar sua água?
A sonda encontrou evidência de que o planeta teve mais água no passado, o suficiente para cobrir sua superfície inteira com uma profundidade de 4,5 metros. (A Terra, como comparação, seria coberta por 2,8 km de água). Se essa água evaporou rapidamente, ela pode ter contribuído para o horrendo efeito estufa que domina Vênus.
Estudar o que ocorreu lá nos ajuda a evitar que algo semelhante ocorra aqui. O aquecimento de um planeta depende de vários fatores: a temperatura na superfície e suas variações, a composição de sua atmosfera, a emissão de gases e vapores de seu interior.
No mínimo, Vênus demonstra que o inferno existe, não no centro da Terra, mas nos céus.

(Folha de SP, 3/2/2008)

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

8. Sobre Paulo Freire, conheça um pouquinho...

O sonho maior de Paulo Freire – de justiça social sem fronteiras, de respeito e cuidado com a vida – parece estar mais próximo de ser vivido. Em 2005, inauguramos a Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco – coordenará as ações voltadas para o decênio, procurando estimular os países-membros da ONU a incorporarem o conceito de desenvolvimento sustentável em suas políticas educacionais.
Para tanto, propõe oito Objetivos para o Desenvolvimento do Milênio (ODM), a serem alcançados até o ano de 2015:

saber cuidar
Você sabia ??? ? ? ? ??
O que é desenvolvimento sustentável?
É o desenvolvimento que atende às necessidades do presente, sem comprometer as necessidades das futuras gerações. Apóia-se em três dimensões: atividade econômica, meio ambiente e bem-estar da comunidade. O desenvolvimento sustentável pode melhorar a qualidade de vida das populações, equilibrar o desenvolvimento socioeconômico nos países e entre eles, preservar e conservar o meio ambiente e controlar recursos naturais considerados essenciais, tais como a água e os alimentos.
Erradicar a extrema pobreza e a fome
Atingir o ensino básicouniversal
Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres
Reduzir a mortalidade infantil ?

Melhorar a saúde materna
Combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças
Garantir a sustentabilidade ambiental
Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.

“Minha radicalidade me exige absoluta lealdade ao homem e à mulher. Uma Economia incapaz
de programar-se em função das necessidades humanas, que convive indiferente com a fome
de milhões a quem tudo é negado, não merece meu respeito de educador nem, sobretudo, meu
respeito de gente. E não me digam que ‘as coisas são assim porque não podem ser diferentes’.”

(FREIRE, Paulo. À sombra desta mangueira. São Paulo: Olho d’Água, 1995, p. 22.)

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

7. Poemas matemáticos



Matemática Aplicada


Site Dedicado aos Estudantes de Matemática

"Aquele que deseja estudar ou exercer a Magia deve cultivar a Matemática".


(Matila Ghyka)



A Tragédia da Matemática


Num certo livro de matemática, um quociente apaixonou-se por uma incógnita.
Ele, o quociente, produto notável de uma família importantíssima de polinômios.
Ela, uma simples incógnita, de mesquinha equação literal.
Oh, que tremenda desigualdade.
Mas como todos sabem, o amor não tem limites e vai do mais infinito até o menos infinito.
Apaixonado, o quociente a olhou do vértice à base, sob todos os ângulos, agudos e obtusos.
Era linda, uma figura ímpar e punha-se em evidência: olhar rombóide (rombo=losango), boca trapezóide, seios esféricos num corpo cilíndrico de linhas senoidais (curvas).
– Quem és tu? – perguntou o quociente com olhar radical.
– Sou a raiz quadrada da soma dos quadrados dos catetos.
Mas pode me chamar de hipotenusa – respondeu ela com uma expressão algébrica de quem ama.
Ele fez de sua vida uma paralela à dela, até que se encontraram no infinito.
E se amaram ao quadrado da velocidade da luz, traçando ao sabor do momento e da paixão, retas e curvas no jardim da quarta dimensão.
Ele a amava e a recíproca era verdadeira.
Adoravam-se nas mesmas razões e proporções no intervalo aberto da vida.
Três quadrantes depois resolveram se casar.
Traçaram planos para o futuro e todos desejaram a felicidade integral.
Os padrinhos foram o vetor e a bissetriz.
Tudo estava nos eixos.
O amor crescia em progressão geométrica.
Quando ela estava em suas coordenadas positivas, tiveram um par: o menino, em homenagem ao padrinho, chamaram de versor; a menina, uma linda abscissa.
Ela sofreu duas operações.
Eram felizes até que, um dia, tudo se tornou uma constante.
Foi aí que surgiu um outro, sim, um outro.
O máximo divisor comum, um freqüentador de círculos viciosos.
O mínimo que o máximo ofereceu foi uma grandeza absoluta.
Ela sentiu-se imprópria, mas amava o máximo.
Sabedor desta regra de três, o quociente chamou-a de fração ordinária.
Sentindo-se um denominador comum, resolveu aplicar a solução trivial: um ponto de descontinuidade na vida deles.
Quando os dois amantes estavam em colóquio, ele em termos menores e ela de combinação linear, chegou o quociente e nu giro determinante disparou o seu 45.
Ela foi para o espaço imaginário e ele foi para num intervalo fechado, onde a luz solar se via através de pequenas malhas quadráticas.

Poema Matemático


"Às folhas tantas do livro de matemática, um quociente apaixonou-se um dia doidamente por uma incógnita. .
Olhou-a com seu olhar inumerável e viu-a, do ápice à base. Uma figura ímpar olhos rombóides, boca trapezóide, corpo ortogonal, seios esferóides.
Fez da sua uma vida paralela a dela até que se encontraram no infinito.
"Quem és tu?" - indagou ele com ânsia radical.
"Eu sou a soma dos quadrados dos catetos, mas pode me chamar de hipotenusa". E de falarem descobriram que eram o que, em aritmética, corresponde a almas irmãs, primos entre-si.
E assim se amaram ao quadrado da velocidade da luz numa sexta potenciação traçando ao sabor do momento e da paixão retas, curvas, círculos e linhas senoidais.
Nos jardins da quarta dimensão, escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas e os exegetas do universo finito.
Romperam convenções Newtonianas e Pitagóricas e, enfim, resolveram se casar, constituir um lar mais que um lar, uma perpendicular. Convidaram os padrinhos: o poliedro e a bissetriz, e fizeram os planos, equações e diagramas para o futuro, sonhando com uma felicidade integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones muito engraçadinhos e foram felizes até aquele dia em que tudo, afinal, vira monotonia.
Foi então que surgiu o máximo divisor comum, freqüentador de círculos concêntricos viciosos, ofereceu-lhe, a ela, uma grandeza absoluta e reduziu-a a um denominador comum. Ele, quociente percebeu que com ela não formava mais um todo, uma unidade.
Era o triângulo tanto chamado amoroso desse problema, ele era a fração mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a relatividade e tudo que era espúrio passou a ser moralidade, como, aliás, em qualquer Sociedade ..."


Millor Fernandes


Poema Matemático

"Pra que dividir sem racionar

Na vida é sempre bom multiplicar

E por A mais B Eu quero demonstrar

Que gosto imensamente de você

Por uma fração infinitesimal

Você criou um caso de cálculo integral

E para resolver este problema

Eu tenho um teorema banal

Quando dois meios se encontram desaparece a fração

E se achamos a unidade

Está resolvida a questão

Para finalizar vamos recordar

Que menos por menos dá mais, amor

Se vão as paralelasAo infinito se encontrar

Por que demoram tanto dois corações se integrar

Se desesperadamente, incomensuravelmente

Eu estou perdidamente apaixonado por você"


Antônio Carlos Jobim

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

6. Que tal estas fotos?

Mapa estelar


Nuvens noctilucentes

Veja muito mais nos sites: http://astro.if.ufrgs.br

http://www.das.inpe.br

http://www.astro.iag.usp.br

http://antwrp.gsfc.nasa.gov/apod/astropix.html

http://www.on.br/revista/index.html

5. Parabéns São Paulo








Um presente para São Paulo, artigo de Washington Novaes


Washington Novaes é jornalista especialista em Meio Ambiente. Artigo publicado no “Estado de SP”:

Seria oportuno se São Paulo aproveitasse a passagem do 454º aniversário para convocar a cidade a participar de uma grande discussão sobre seus rumos - e em seguida transformasse as conclusões em plataformas públicas. Já não seria sem tempo, diante da gravidade dos problemas acumulados durante décadas em tantos setores. E talvez muito profícuo, dada a aproximação das eleições municipais.

As gerações mais novas provavelmente não têm idéia do que foi a qualidade de vida na capital na primeira metade do século 20 - e do quanto se perdeu. O autor destas linhas, ainda menino, conheceu-a em 1942, trazido do interior, e se maravilhou com a cidade de pouco mais de 1 milhão de habitantes, arborizada e florida, raros automóveis (quase só táxis), bondes e ônibus confortáveis, limpos e pontuais, nenhuma favela, sistemas de educação e saúde apontados como exemplos para o mundo.

As altas taxas de natalidade da época, aliadas à forte migração, mudaram radicalmente o quadro. Os fortes fluxos migratórios da Europa, do Oriente Médio e do Japão produziram um rápido avanço tecnológico - dado o acervo de informação trazido e acumulado - e determinaram um salto industrial, que multiplicou postos de trabalho e renda.

As disparidades internas de renda e de infra-estruturas de educação e saúde geraram, então, forte migração interna, principalmente do Nordeste e do Centro-Oeste. No início da década de 50, quando este escriba também migrou para cá, em busca de ensino superior, a população paulistana já ultrapassava 2 milhões de pessoas. Surgiam as primeiras ocupações ilegais nas periferias, começava a mudar o clima da que fora até então a cidade da garoa.

A população na capital e no Estado dava saltos. Neste, passava de 29,03 habitantes por quilômetro quadrado em 1940 para 51,29 em 1960, para 102,25 em 1980, para 148,7 em 2000.

E o processo de urbanização ocorria em todo o território paulista: em 1940, a população urbana era de 3,16 milhões, ante 4,01 milhões na zona rural; em 2000, 34,59 milhões nas áreas urbanas e 2,43 milhões nas rurais, com a cidade de São Paulo passando de 10 milhões de pessoas, a da Grande São Paulo caminhando para 20 milhões em 2015, segundo os demógrafos da ONU. Sem que se implantassem políticas adequadas de expansão urbana.

O panorama, hoje, é muito grave. Quase 1,5 milhão de desempregados na região metropolitana, a população em mais de 1.500 favelas (400 mil famílias) se aproximando de 2 milhões de pessoas (aumentou 38% em quatro anos), das quais 1,2 milhão vivendo em ocupações ilegais em áreas de
proteção de mananciais, principalmente Billings e Guarapiranga.

A taxa de homicídios, embora em queda, ainda é muito alta e ameaça principalmente jovens na faixa de 18 a 24 anos (as maiores vítimas de homicídios). A cidade e o Estado perdem progressivamente sua participação no produto bruto nacional e na geração de renda tributária.

As infra-estruturas de educação e saúde se precarizaram na capital, as taxas de analfabetismo funcional incluem quase 75% dos que chegam ao mercado. Na área de saneamento, só são tratados em São Paulo menos de 65% dos esgotos coletados e 6% da população paulistana não dispõe de
ligação à rede.

Mais de 20% da água que sai das estações de tratamento se perde na rede distribuição. A cidade produz entre 12 mil e 14 mil toneladas de lixo domiciliar e comercial por dia (fora 17 mil toneladas de resíduos de construções) e já não tem onde colocá-lo, embora gaste com ele uma das parcelas mais altas do orçamento municipal.

O trânsito paralisante foi comentado neste espaço na semana passada. Lembra Adriano Murgel Branco que no mesmo espaço de tempo em que São Paulo só construiu umas poucas dezenas de quilômetros de metrô - evidentemente, o caminho e a solução mais adequados - a cidade do México instalou quatro vezes mais.

Agora, com as políticas de estímulo ao transporte individual, aliadas à legislação e fiscalização deficientes, chega-se a uma situação de perplexidade e temor.

Em muitos momentos, a cidade parece próxima da ingovernabilidade, com surtos de desobediência coletiva nas áreas dos transportes, do comércio ilegal e até da criminalidade, que aos poucos vai criando territórios próprios e se dá ao desplante de desafiar as autoridades. Por isso mesmo, parcelas cada vez maiores da população tendem a isolar-se em condomínios e áreas fechadas, na tentativa de se protegerem.

Os que não têm essa suposta válvula de escape se confinam cada vez mais em seus pequenos refúgios domésticos - convivendo na TV com o noticiário da violência.

São Paulo e os paulistanos merecem muito mais. Mas - é preciso repetir e repetir - não o terão se continuarem na passividade política. A sociedade - é preciso insistir - terá de se organizar, discutir, definir prioridades, exigir dos candidatos a postos eletivos que assumam suas plataformas.

Não tem cabimento - como aconteceu há poucos anos - assistir passivamente a que num plano de descentralização administrativa oferecido pela Universidade de São Paulo fosse aprovada pelos legisladores apenas a criação de subprefeituras e respectivos cargos, mas eliminando a criação de conselhos distritais em que representantes da sociedade decidiriam sobre as prioridades, a aplicação do orçamento e a fiscalizassem.

Mas a sociedade também precisará aceitar sua participação nos ônus. Que sentido faz aplaudir a extinção da taxa para coleta e destinação do lixo e ver agravar-se a dramática situação no setor? E esse é apenas um de muitos exemplos possíveis.

Só cegos não vêem que o sistema político-eleitoral no País terá de passar por mudanças profundas. São Paulo poderia começar a dar exemplo, neste aniversário.

Seria um belo presente poder vê-la de novo com olhos de menino.

(O Estado de SP, 25/1 e Jornal da Ciência jcemail@jornaldaciencia.org.br)

4. Conhecendo um pouco mais o nosso universo

Robôs completam 4 anos em solo marciano. Já são mais de 200 mil imagens, 30 gigabaites de informação e a certeza de que houve água. Roberta Jansen escreve para “O Globo”:

A mais ambiciosa missão jamais realizada em solo marciano já contabiliza a geração de mais de 200 mil imagens, um total de 30 gigabaites de informação e uma certeza agora incontestável: houve água em abundância no passado de Marte e pode ter havido formas microbiológicas de vida.

O balanço dos quatro anos da missão dos robôs Spirit e Opportunity no planeta vermelho é bastante positivo, na análise de Paulo Souza, o especialista brasileiro que integra a Mars Explorer Rover, da Agência Espacial Americana.

A missão, lançada em janeiro de 2004, tinha como objetivo principal buscar evidências geológicas e climáticas da presença de água no planeta. Até então, havia uma discussão incessante sobre o tema, com diversos estudos contraditórios publicados.

Buscar comprovação da presença de água era apontado como o ponto de partida para estudar a existência de formas de vida.

— Mudamos muito o nosso conhecimento sobre Marte — afirma Paulo Souza.
— Há quatro anos (ainda que houvesse alguns indícios) não tínhamos a comprovação de nenhum robô atestando a presença de minerais que precisam de água para se formar. Os que pousaram antes encontraram apenas deserto. E a água é a questão mais importante. Porque não há forma de vida, na Terra ao menos, que não precise de água.

Presença de água no subsolo ainda é mistério. Nesse sentido, sustenta o cientista, a missão foi muito bem sucedida ao atestar, por meio da composição química das rochas encontradas e
analisadas pelos robôs, que houve muita água em estado líquido no passado do planeta.

— Marte teve vários tipos de água: sistemas hidrotermais, gêisers, oceanos — sustenta Souza. — Tivemos água aparecendo com uma diversidade muito interessante, como acontece na Terra.

Uma outra certeza obtida com os dados enviados pelos robôs é que, hoje não há água em estado líquido na superfície do planeta. Há fortes indícios de que existe gelo nos pólos e a missão Phoenix está a caminho com o objetivo de testar essa hipótese in loco — uma missão anterior, em 2001, falhou ao tentar o pouso. Se há água no subsolo, diz Souza, é mais difícil de inferir por enquanto, embora não seja uma hipótese descartada.

— Toda essa água que havia na superfície, nós acreditamos que tenha evaporado — conta o cientista. — É certo que não há água líquida hoje na superfície e, ainda que houvesse, ela duraria muito pouco tempo; se evaporaria e se perderia na atmosfera. Mas não temos praticamente nenhuma informação sobre o que ocorre abaixo da superfície. Pode sim, haver lençóis freáticos, água subterrânea e, portanto, pode haver formas de vida.

Missões anteriores já atestavam a presença, em Marte, de outros nutrientes que sustentam a vida, como nitrogênio, fósforo, carbono e energia, tanto a do Sol quanto a proveniente de processos térmicos. O que faltava na equação era a água.

— Nosso conhecimento sobre a possibilidade de vida em Marte avança bastante com os dados desta missão — acredita Souza. — Agora podemos falar sobre vida em Marte com a voz mais grossa, com mais propriedade, porque sabemos que havia as condições necessárias para a formação de vida: nutrientes, energia e água. E quando esses três elementos estão juntos, a
vida tende a se formar e a se manter.

Mas que ninguém espere por homenzinhos esverdeados. O consenso hoje na comunidade científica é que, se houve vida no planeta vermelho, ela ocorreu na forma microbiológica, como vírus e bactérias. Uma informação chave nessa equação da qual os especialistas ainda não dispõem é saber por quanto tempo houve água em Marte. Esse dado é crucial para que se
possa inferir que tipo de vida teria tido tempo de evoluir.

— Se a água existiu por um período longo, em tese houve tempo para a reprodução de formas mais evoluídas — explica o cientista. — Mas essas são questões que ainda não podemos responder. O que temos hoje são dois geólogos em Marte. É possível que, nas próximas missões, tenhamos robôs arqueólogos ou biólogos, que possam analisar possíveis fósseis ou
indícios de vida presente.

A primeira missão a pousar em Marte foi a Viking, em 1976. Na época, foram obtidas análises de rochas e gases. Mas como não havia a possibilidade de deslocamento pelo solo, a nave ficou restrita ao seu local de pouso. Mais de dez anos depois, em 1997, a Pathfinder avançou em relação à primeira missão, percorrendo 104 metros. Robôs estão trabalhando há 1.400 dias marcianos Quase nada se comparado aos 12 quilômetros já percorridos pelo Opportunity e os 7,5 avançados pelo Spirit.

Além disso, os robôs estão em áreas opostas do planeta, separados por 4 mil quilômetros de distância, o que dá uma diversidade maior aos dados enviados. Ao todo, os robozinhos já trabalharam o equivalente a 1.400 dias marcianos (o dia em Marte é um pouco mais longo que o da Terra, com 24 horas e 40 minutos) e devem trabalhar ainda por um tempo indefinido.

Inicialmente programada para durar apenas três meses, a missão se estenderá enquanto houver verbas e os robôs se mantiverem em funcionamento.

Souza teme pela chegada do inverno marciano, com ventos de até 400 km/hora, mas está otimista: — Eles já passaram bem por outros invernos. Este será mais difícil porque eles estão mais cansados, mas temos esperanças.

(O Globo, 24/1 e Jornal da Ciência <>)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

3.Vamos contribuir para uma São Paulo melhor, inclusive para nós pobres.

Nesta manhã, o Movimento Nossa São Paulo, www.nossasaopaulo.org.br/ realizou a primeira plenária do 1º Fórum Nossa São Paulo, cujas plenárias finais serão em 15 a 18/05/2008. Acho que vale à pena a participação pois a direção do movimento é composta por pessoas bastante interessadas e nos parece sérias. Consulte o sitio acima citado e vamos nos reunir e discutir as propostas para que nós pobres, consigamos viver em uma São Paulo melhor.

Aproveite o seu comentário para dizer o que a cidade precisa ter, o que é necessário ser feito ou construído para a nossa comunidade da Consolação/Roosevelt poder viver melhor?

2. A net é realmente um exemplo de prática socialista

Na minha primeira postagem, declarei os meus objetivos para com esse blog e também que não serei candidato a qualquer cargo eletivo, porém não deixarei de falar de política e agir politicamente, mantendo-me extra-partidário é claro. Neste sentido, sugiro a leitura do texto abaixo:

A revolução do ensino aberto, artigo de Jimmy Wales e Richar Baraniuk

“Imagine um mundo onde livros-texto e outros materiais de apoio à aprendizagem estejam disponíveis, gratuitamente, para todo mundo, via internet”

Jimmy Wales é fundador da Wikipedia e da Wikia. Richard Baraniuk,fundador da Connexions, é professor de engenharia na Universidade Rice. Artigo publicado no “Valor Econômico”:

Como fundadores das duas maiores plataformas de mídia de fonte aberta do mundo - Wikipedia e Connexions - temos sido, ambos, acusados de sermos sonhadores. Independentemente, fomos contaminados pela idéia de criar uma plataforma de web que permitisse a qualquer pessoa contribuir com seu conhecimento para a montagem de um acervo de recursos abertos e gratuitos de aprendizagem.

Jimmy começou com sua enciclopédia gerada pela comunidade. Rich desenvolveu uma plataforma para que autores, professores e estudantes criem, recompilem e compartilhem cursos e livros didáticos.

Quase todo mundo declarou a irrelevância desses sonhos. Agora, com apoio de legiões de participantes - de premiados com o Nobel a ginasianos, de Timor Leste a Los Angeles - a Wikipedia e a Connexions alastraram-se pelo mundo e são hoje bases orgânicas e crescentes de informação usadas por centenas de milhões de pessoas.

Queremos contaminá-lo com o sonho de que qualquer pessoa pode passar a fazer parte de um novo movimento capaz de mudar o mundo do ensino. Esse movimento pode redefinir para sempre como o conhecimento é criado e usado.

Hoje, alguns alunos de escolas comunitárias têm de abandonar a escola porque seus livros escolares custam mais do que o preço de seus cursos; e agora, também, alguns estudantes precisam compartilhar seus textos de matemática porque não há exemplares em número suficiente para todos. Mas imagine um mundo onde livros-texto e outros materiais de apoio à
aprendizagem estejam disponíveis, gratuitamente, para todo mundo, via internet - e a baixos custos de impressão.

Nessa realidade, barreiras lingüísticas impedem que muitos pais imigrantes ajudem seus filhos com suas lições de casa porque os textos estão apenas em inglês. Mas imagine um mundo onde os livro didáticos estejam adaptados a muitos estilos de aprendizagem e traduzidos para uma infinidade de idiomas.

Plutão permanece na lista de planetas em livros escolares de ciência, e quem sabe quanto tempo será necessário para que seja removido. Mas imagine um mundo onde os livros acadêmicos sejam continuamente atualizados e corrigidos por uma legião de colaboradores.

Um mundo assim era apenas um sonho uma década atrás. Mas, hoje, as peças do quebra-cabeças do movimento Ensino Aberto se encaixaram, de modo que qualquer pessoa, e em qualquer lugar, pode redigir, montar, adaptar e publicar seus próprios cursos ou livros escolares abertos.

Licenças abertas tornam legal a produção e agregação de materiais. Inovações técnicas como o padrão XML para textos e a impressão sob demanda tornam a disponibilização desses produtos tecnicamente viável e barata.

Os novos modelos de desenvolvimento e distribuição estimulados pelo movimento Ensino Aberto representam uma evolução natural e inevitável da indústria editorial educacional.

Trata-se de uma evolução paralela à evolução do setor de software (rumo ao Linux e outros programas de fonte aberta); a indústria fonográfica (por exemplo, a recente opção de download “pague quanto quiser” da banda Radiohead); e a publicação de ensaios acadêmicos (o governo dos EUA determinou recentemente o acesso público online a todas as pesquisas financiadas pelo National Institutes of Health – um montante total de US$ 28,9 bilhões neste ano).

O que há de apaixonante na iniciativa de Ensino Aberto é que o acesso gratuito é apenas o começo. O Ensino Aberto promete converter o sistema de criação e produção de livros escolares num ecossistema vasto e dinâmico de conhecimento em constante estado de criação, utilização, reutilização e aperfeiçoamento.

O Ensino Aberto promete proporcionar às crianças materiais para aprendizagem personalizados para suas necessidades individuais, em contraste com os atuais materiais “de prateleira”, aliados a circuitos de realimentação de conteúdos mais rápidos, produzindo um casamento mais direto dos resultados da aprendizagem com desenvolvimento e aperfeiçoamento de conteúdo.


E o Ensino Aberto acena com a possibilidade de novas abordagens ao aprendizado colaborativo, alavancando a interação social entre alunos e professores em todo o mundo.

No fim do ano passado, na Cidade do Cabo, reunimo-nos com representantes de todo o mundo para chegar a um consenso sobre os ideais e abordagens ao Ensino Aberto, e nos comprometemos com eles na declaração de Ensino Aberto da Cidade do Cabo, que foi oficialmente publicado em 22 de janeiro.

Todo mundo tem o que ensinar. Todo mundo tem algo a aprender. Juntos, podemos, todos nós, ajudar a transformar a maneira pela qual o mundo desenvolve, dissemina e usa o conhecimento. Unidos, poderemos ajudar a tornar realidade o sonho do Ensino Aberto.
(Valor Econômico, 24/1e transcrito no Jornal da Ciência, 24/01/2008 )

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

2008

Aos meus ex-alunos e aos futuros alunos um ótimo 2008 em todos os sentidos.

Convido a todos vocês, leitores desse blog a compartilhar e debater comigo, a melhor forma para que possamos contribuir (não sou candidato a qualquer cargo eletivo público legislativo ou executivo), para a efetiva melhora constante da qualidade do Ensino Fundamental público, particularmente na E.E.Caetano de Campos - Consolação - São Paulo - SP e sua conseqüênte aprendizagem por parte dos alunos.

Quero ler comentários com críticas construtivas de forma que possa propiciar atender aos objetivos acima citados, no intuíto único e exclusivo de continuar contribuindo com a minha pequena parcela de responsábilidade assumida quando me formei em Licenciatura em Matemática na Faculdade de Ciência de Ribeirão Pires - São Paulo, nos idos de 1978, em pleno momento histórico da ditadura militar.

Acreditem que o meu desejo é realmente, aprender com vocês formas e técnicas para melhorar as minhas aulas, contribuindo assim para que meus alunos realmente desejem aprender e estudar. Esta é a única forma lícita em que dependemos apenas de nós mesmos para o nosso crescimento individual, seja o desenvolvimento econômico ou social, individual ou coletivo.

Portanto, quero debater com vocês, as possibilidades de avançarmos esse tema que foi descoberto pela imprensa recentemente e colocaram nós professores como os vilões da má qualidade do ensino no Brasil.

Vamos em frente...