sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

4. Conhecendo um pouco mais o nosso universo

Robôs completam 4 anos em solo marciano. Já são mais de 200 mil imagens, 30 gigabaites de informação e a certeza de que houve água. Roberta Jansen escreve para “O Globo”:

A mais ambiciosa missão jamais realizada em solo marciano já contabiliza a geração de mais de 200 mil imagens, um total de 30 gigabaites de informação e uma certeza agora incontestável: houve água em abundância no passado de Marte e pode ter havido formas microbiológicas de vida.

O balanço dos quatro anos da missão dos robôs Spirit e Opportunity no planeta vermelho é bastante positivo, na análise de Paulo Souza, o especialista brasileiro que integra a Mars Explorer Rover, da Agência Espacial Americana.

A missão, lançada em janeiro de 2004, tinha como objetivo principal buscar evidências geológicas e climáticas da presença de água no planeta. Até então, havia uma discussão incessante sobre o tema, com diversos estudos contraditórios publicados.

Buscar comprovação da presença de água era apontado como o ponto de partida para estudar a existência de formas de vida.

— Mudamos muito o nosso conhecimento sobre Marte — afirma Paulo Souza.
— Há quatro anos (ainda que houvesse alguns indícios) não tínhamos a comprovação de nenhum robô atestando a presença de minerais que precisam de água para se formar. Os que pousaram antes encontraram apenas deserto. E a água é a questão mais importante. Porque não há forma de vida, na Terra ao menos, que não precise de água.

Presença de água no subsolo ainda é mistério. Nesse sentido, sustenta o cientista, a missão foi muito bem sucedida ao atestar, por meio da composição química das rochas encontradas e
analisadas pelos robôs, que houve muita água em estado líquido no passado do planeta.

— Marte teve vários tipos de água: sistemas hidrotermais, gêisers, oceanos — sustenta Souza. — Tivemos água aparecendo com uma diversidade muito interessante, como acontece na Terra.

Uma outra certeza obtida com os dados enviados pelos robôs é que, hoje não há água em estado líquido na superfície do planeta. Há fortes indícios de que existe gelo nos pólos e a missão Phoenix está a caminho com o objetivo de testar essa hipótese in loco — uma missão anterior, em 2001, falhou ao tentar o pouso. Se há água no subsolo, diz Souza, é mais difícil de inferir por enquanto, embora não seja uma hipótese descartada.

— Toda essa água que havia na superfície, nós acreditamos que tenha evaporado — conta o cientista. — É certo que não há água líquida hoje na superfície e, ainda que houvesse, ela duraria muito pouco tempo; se evaporaria e se perderia na atmosfera. Mas não temos praticamente nenhuma informação sobre o que ocorre abaixo da superfície. Pode sim, haver lençóis freáticos, água subterrânea e, portanto, pode haver formas de vida.

Missões anteriores já atestavam a presença, em Marte, de outros nutrientes que sustentam a vida, como nitrogênio, fósforo, carbono e energia, tanto a do Sol quanto a proveniente de processos térmicos. O que faltava na equação era a água.

— Nosso conhecimento sobre a possibilidade de vida em Marte avança bastante com os dados desta missão — acredita Souza. — Agora podemos falar sobre vida em Marte com a voz mais grossa, com mais propriedade, porque sabemos que havia as condições necessárias para a formação de vida: nutrientes, energia e água. E quando esses três elementos estão juntos, a
vida tende a se formar e a se manter.

Mas que ninguém espere por homenzinhos esverdeados. O consenso hoje na comunidade científica é que, se houve vida no planeta vermelho, ela ocorreu na forma microbiológica, como vírus e bactérias. Uma informação chave nessa equação da qual os especialistas ainda não dispõem é saber por quanto tempo houve água em Marte. Esse dado é crucial para que se
possa inferir que tipo de vida teria tido tempo de evoluir.

— Se a água existiu por um período longo, em tese houve tempo para a reprodução de formas mais evoluídas — explica o cientista. — Mas essas são questões que ainda não podemos responder. O que temos hoje são dois geólogos em Marte. É possível que, nas próximas missões, tenhamos robôs arqueólogos ou biólogos, que possam analisar possíveis fósseis ou
indícios de vida presente.

A primeira missão a pousar em Marte foi a Viking, em 1976. Na época, foram obtidas análises de rochas e gases. Mas como não havia a possibilidade de deslocamento pelo solo, a nave ficou restrita ao seu local de pouso. Mais de dez anos depois, em 1997, a Pathfinder avançou em relação à primeira missão, percorrendo 104 metros. Robôs estão trabalhando há 1.400 dias marcianos Quase nada se comparado aos 12 quilômetros já percorridos pelo Opportunity e os 7,5 avançados pelo Spirit.

Além disso, os robôs estão em áreas opostas do planeta, separados por 4 mil quilômetros de distância, o que dá uma diversidade maior aos dados enviados. Ao todo, os robozinhos já trabalharam o equivalente a 1.400 dias marcianos (o dia em Marte é um pouco mais longo que o da Terra, com 24 horas e 40 minutos) e devem trabalhar ainda por um tempo indefinido.

Inicialmente programada para durar apenas três meses, a missão se estenderá enquanto houver verbas e os robôs se mantiverem em funcionamento.

Souza teme pela chegada do inverno marciano, com ventos de até 400 km/hora, mas está otimista: — Eles já passaram bem por outros invernos. Este será mais difícil porque eles estão mais cansados, mas temos esperanças.

(O Globo, 24/1 e Jornal da Ciência <>)

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