domingo, 29 de junho de 2008

Caminhando...

O Cursinho, iniciando.

Jornal, rádio ou TV, assim como, demais meios de comunicação, tratavam diariamente da violência urbana e especialmente da violência no Jardim Ângela e no Capão Redondo, periferia do estremo sul da cidade de São Paulo.
Eu lecionava matemática na Escola Estadual José Lins do Rego, mas os alunos, ao menos uma boa parte deles, não estavam nem aí para o que era explicado.
Anos 90, dez anos após a derrubada da ditadura militar, vivíamos a plenitude da liberdade, porém os alunos já não entendiam e não aproveitavam o saber, o conhecimento oferecido, sem qualquer custo, financeiro ou econômico exigido por nós professores. Aliás, um único custo necessário era e como sempre, é apenas a atenção e as anotações para que auxiliem a evitar o esquecimento do conteúdo, mesmo porque já somos pagos pelo poder público, ou seja, por eles mesmo de forma indireta.

Meus alunos, não sabiam da necessidade de ir à escola. Como hoje, a grande maioria dos alunos daquela época, também não tinham essa concepção de que a melhor forma de auferirmos renda, melhorarmos e ultrapassarmos as barreiras econômicas e sociais é e sempre será a educação formal em primeiríssimo lugar. Seguido do aprender sempre, aprimorar-se e informar-se a cada passo dado. Claro que estou me referindo às formas legais, em que dependemos apenas de nossos próprios esforços.

Cansado de malhar em ferro frio, de tanto reclamar e conclamar a atenção, recebi como agradecimento, uma cadeira que arremessada chegou aos meus pés, por pouco não fui atingido. Os pais do garoto foram convocados, sua mãe compareceu a escola. Recebi um pedido de desculpa e o garoto foi convidado a mudar para uma outra escola. Ao menos dessa vez, um dos responsáveis apareceu. Muitas vezes não dão ouvidos, não comparecem as reuniões de pais ou sequer procuram saber sobre o rendimento escolar dos seus filhos. É claro que também compreendo as dificuldades desses pais de família, trabalhando arduamente, muitas vezes distante de sua residência, chega cansado, no caso da mulher, cansada e prestes a iniciar a segunda ou terceira jornada, que é a de cuidar das tarefas domésticas, dificilmente tem coragem e vontade para preocupar-se com os afazeres escolares dos filhos.

Vida sofrida, carente de quase tudo, inclusive e principalmente dos recursos financeiros tão necessários para a sobrevivência digna de todos nós. A TV é o refúgio, o circo capaz de conter, aplainar e até barrar as indignações sofridas diariamente nas mais diversas circunstâncias. Desde a ditadura comandada pelo chefe, quando empregado é claro, o trânsito congestionado, o ônibus lotado, as filas constantes, a impaciência dos transeuntes e pedestres, a demora do semáforo quando fechado, o veículo que desrespeita o farol vermelho justamente quando possibilita a nossa passagem. Tudo isso procuramos esquecer, observando o circo propagando na TV através dos mais diversos programas, inclusive da novela, vendo pessoas bonitas, ricas e felizes. Lazer? Além da TV, a cerveja no bar, o cigarro entre os dedos? O futebol? Na TV principalmente porque no estádio fica realmente bem mais difícil porque é caro o preço do ingresso, o custo do transporte além do tempo para o deslocamento. Principalmente quando no horário noturno, porque a partida só começa quando termina o capítulo inédito da novela das 21h.

Muitas vezes me pergunto, porque será que os americanos assim como os europeus, dos filmes, estão sempre felizes, tem dinheiro para o que desejar comprar, têm casa grande e com todo o conforto, além de bela piscina. Exatamente o oposto das residências da periferia de Sampa cujo padrão é a casa com apenas três cômodos, sem reboque, pintura ou telhado, sempre inacabado.

Pagamos tantos impostos, e o saco sem fundo do tesouro nacional nunca tem os fundos suficientes. Apenas os políticos ganham muito bem e sempre conseguem reajuste dos vencimentos. Muitos, senão a maioria dos políticos, está ligados a esquemas de corrupção, superfaturamento de obras e até expropriação de parte dos salários de subordinados para formação e manutenção de caixa de partidos políticos. Imagino a corrupção que deve existir no Banco Central! Pagamos uma soma exorbitante de juros. No momento, o montante anual de U$ 180 bilhões. A instituição pode reduzir a taxa de juros para que o país pague menos. Mas, o presidente do banco central, prefere aumentar a taxa de juros para que os banqueiros se apropriem desses recursos os quais faltarão para a saúde e a educação que tanto necessitam. Culminamos, entregando o banco central do país, ao próprio banqueiro. Ou seja, entregamos o galinheiro para o gavião.

Neste clima, incentivei muito aos alunos para fazer cursinho pré vestibular, principalmente aqueles populares, que podia ser financiado sem muito sacrifício por essa população carente. Nessa época, meu filho mais velho, após fazer um desses cursinhos, foi aprovado em três, das três universidade públicas que prestou vestibular.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

16.Quem somos nós?

Origem comum, artigo de Marcelo Gleiser

A visão moderna do cosmo aproxima as pessoas

Marcelo Gleiser é professor de física teórica no Dartmouth College, em
Hanover (EUA) e autor do livro "A Harmonia do Mundo". Artigo publicado
na "Folha de SP":

Lendo os jornais, assistindo aos noticiários na TV, ou simplesmente prestando atenção ao que se passa à nossa volta,não há nada mais óbvio do que as diferenças da sociedade; conflitos políticos, raciais, domésticos, disparidades financeiras, preconceitos arraigados, enfim: um quadro que mostra o quanto somos diferentes uns dos outros e o quanto ainda temos que lutar para que essas diferenças sejam diminuídas.

Nessas horas, imagino que ninguém pense muito no que as ciências físicas e biológicas têm a dizer. Ninguém imagina que a visão moderna do cosmo nos aproxima uns dos outros de modo profundo, essencial.

Talvez essa visão não ofereça consolo ao vermos uma criança pedindo esmola na rua, ou baleada no tráfico de drogas. Mas, se interpretada de forma correta, deveria oferecer um novo modo de pensar sobre o mundo e sobre nosso lugar nele. Seria ao menos um começo.

A pressão pela sobrevivência é e sempre foi a mola que propulsiona a vida, com todas as coisas boas e ruins que ela traz. A diferença humana é que adicionamos ao que é necessário quantitativamente -comida, abrigo, reprodução- aquilo que é qualitativamente aprazível.

Não queremos apenas comer, queremos comer bem; não queremos apenas procriar, queremos ... bem, você me entende.

Mas me pergunto se não está na hora de repensarmos nossa dependência das leis que regem a evolução, se não podemos, tal como tentamos fazer com as doenças, repensar a doente condição humana, combatê-la com nossa arma mais poderosa, nossa capacidade de reflexão.

Talvez precisemos começar do começo para que as coisas mudem, do começo não só da civilização, mas do começo de tudo. Somos todos, ricos e pobres, reis e camponeses, grilos, baleias e samambaias, produtos do cosmo, das mesmas leis que regem a natureza, compostos dos mesmos elementos químicos, forjados há bilhões de anos nas mesmas estrelas.

Nossa história, a minha, a sua, a de todo mundo nesse planeta, começou ao mesmo tempo, cerca de 14 bilhões de anos atrás, quando nosso universo começou sua expansão. Foi então que essa massa de energia começou a moldar as partículas que formam tudo o que existe, os primeiros elétrons, os prótons e nêutrons, os primeiros núcleo atômicos.

Passados 400 mil anos, com o Universo ainda na sua infância, surgiram os primeiros átomos, os tijolos fundamentais da matéria.

Conglomerados de átomos, atraídos pela gravidade, formaram nuvens de matéria que, girando de forma instável, contraíram-se para formar as primeiras estrelas. Essas viveram pouco, vítimas de sua enorme massa.

Ao morrer, entraram em colapso, forjando em suas entranhas os elementos químicos mais pesados -carbono, oxigênio, ferro- lançados ao espaço em seus últimos estertores. Esses átomos espalharam as sementes da vida pelo espaço. Outras estrelas nasceram e outras morreram cosmo afora.

Passados quase 10 bilhões de anos, nasceram o Sol, os planetas, a Terra e a Lua, todos com infâncias violentas: cometas e asteróides bombardeando suas superfícies, radiação solar letal e poucas chances de a vida surgir.

Mas em um deles, por não estar nem muito longe nem muito perto do Sol, a água pôde manter-se líquida; por ter a massa certa, criou uma camada protetora à sua volta, a atmosfera. Aos poucos, os elementos químicos foram se combinando,formando moléculas complexas. Delas, surgiu a vida. E dela, surgimos nós. Nossa história, se contada assim, do começo, é a mesma.

Precisamos de 10 mil anos de civilização para aprendermos isso. Espero que não sejam necessários outros 10 mil para usarmos esse conhecimento com sabedoria.
(Folha de SP, 24/2)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

15. Nanotecnologia

Nanotecnologia: o importante é ser pequeno, artigo de Eloi S.Garcia

“O Inmetro vem priorizando e desenvolvendo de áreas como materiais nanoestruturados, nanobiotecnologia, nanoquímica e nanofármacos, que, por sua enorme potencialidade científica, tecnológica e econômica, vem se tornando visível à ciência brasileira”

Eloi S. Garcia, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, ex-presidente da Fiocruz, membro da Academia Brasileira de Ciências, e Coordenador Estratégico de Biotecnologia do Inmetro. Artigo enviado pelo autor ao “JC e-mail”:

Quase na virada do século 21, o presidente Norte-Americano, Bill Clinton, falava que a fronteira para a ciência estava na nanotecnologia. A frase histórica de Clinton foi: “imaginem reduzir toda a informação contida na Biblioteca do Congresso Americano em um artefato do tamanho de um torrão de açúcar”.

Assim nascia o Programa Nacional Americano de nanociência, baseado na manipulação da matéria em escala atômica, para estimular a ciência e a economia. Hoje sabemos que o futuro dos alimentos, dos equipamentos eletrodomésticos, dos medicamentos, dos novos materiais, passa de alguma maneira pela nanotecnologia.

Dois princípios básicos norteiam esta tecnologia: (i) o econômico, pois menor normalmente significa mais barato; (ii) o científico, talvez mais filosófico, pela possibilidade de imitar a natureza, ou seja, disponibilizar os átomos onde queremos num determinado composto químico. A nanociência permite planejar o processo como ocorre na natureza: do pequeno para o grande, do átomo para a molécula.

Esta história começou em 1959 no Instituto Tecnológico da Califórnia, quando o premio Nobel Novaiorquino, o físico Richard Phillips Feynman, propôs a construção de máquinas pequenas, nos limites possíveis da resolução, que respeitassem as leis da física. Surpreso, Feynman observou que não havia nada nas leis da mecânica quântica que impossibilitasse a criação de máquinas do tamanho de um vírus.

Para testar essa idéia, Richard ofereceu um prêmio para quem conseguisse colocar os 24 volumes da edição de 1959 da Enciclopédia Britânica na cabeça de uma alfinete. Para isto era necessário aumentar 25 mil vezes a cabeça do alfinete ou reduzir 25 mil vezes o conteúdo da Enciclopédia. Pouco tempo depois, Feynman teve que pagar o prêmio desse desafio.

As técnicas mais freqüentes que permitem a detecção na escala do nanômetro (1 milímetro equivale a 1 milhão de nanômetros) são o microscópio de tunelamento e o microscópio de força atômica. Ambos permitem manipular moléculas individuais para formar nanoestruturas, que são as bases dos novos materiais.

Como referência do que estamos falando: uma bactéria mede em torno de um milionésimo do metro, ou seja, mil nanômetros; o vírus tem um tamanho que varia de 10 a 100 nanômetros. Eric Drexler, em 1986, foi o responsável pelo desenvolvimento da base teórica desta tecnologia e cunhou o nome nanotecnologia.

Em sua visão fantástica Feynman queria imitar a natureza, pois os organismos vivos possuem milhares de moléculas, de tamanhos reduzidíssimos, que catalisam reações bioquímicas, movem-se, organizam-se e se reproduzem. Mas, hoje sabemos que este fabuloso físico além de imitar a natureza queria também utilizá-la. Porque, por exemplo, não utilizar a miosina (uma proteína contrátil) na criação de um nanomotor ou na movimentação de um nanorobot?

Nestas 3 décadas de pesquisa têm sido obtidos muitos avanços nesta área. Uma das fronteiras da nanotecnologia abre novos caminhos para a mecânica quântica. Quanto mais desenvolve mais se conhece este especialidade da física que explica o comportamento da matéria em escala atômica.


No nanomundo quem dá às ordens é a mecânica quântica unindo os princípios da química e da biologia.

A nanotecnologia já está sendo investigada em várias áreas. Em alguns anos será possível criar armas atômicas minúsculas ou câmaras de vigilância do tamanho de uma molécula capazes de gravar todos os movimentos de um indivíduo. Logo poderemos entender e controlar o comportamento dos átomos. Ou seja, as nanomáquinas são mais eficientes e suas construções necessitam poucos materiais, pois suas bases fundamentais são átomo a átomo, molécula por molécula, gerando estruturas e materiais com propriedades variáveis.

Alguns bilhões de dólares estão sendo investidos em estratégias de aplicação da nanotecnologia em diversas áreas (médica, meio ambiente, industrial, etc) que vão desde a produção de um nanorobot que libera medicamento as células-alvo, onde é necessário (nanoterapia) até a elaboração de nanochip e nanocomputadores. Por ano são publicados cerca de 15 mil artigos na área da nanotecnologia que facilmente cabem na cabeça de um alfinete.

O Brasil também está investido no domínio dessa tecnologia. O MCT possui um programa estimulando a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico nesta área.

No MDIC, o Inmetro vem priorizando e desenvolvendo de áreas como materiais nanoestruturados, nanobiotecnologia, nanoquímica e nanofármacos, que, por sua enorme potencialidade científica, tecnológica e econômica, vem se tornando visível à ciência brasileira.

Artigo publicado no "Jornal da Ciência" de 19.02.2008.

Questões para serem respondidas:

1) Vamos definir o que é nanotecnologia?

2) Pesquise e encontre, ao menos 10 nanoprodutos em processo de pesquisa ou de produção;

3) O aluno de hoje, poderá trabalhar com a nanotecnologia? Poderá ser uma boa oportunidade de trabalho?

4) A oportunidade para trabalhar com nanotecnologia, será possível apenas para os bons alunos da área de matemática ou ciências exatas: física, química?

5) Pesquise sobre o mercado de trabalho nas indústrias de:
a) computadores nos anos 70/80;
b) telefones celulares nos anos 90.

E.T: Cite as referências bibliográficas.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

13. Amazônia e a Educação dos brasileiros


João Domingos escreve para "O Estado de SP":

Para tentar reduzir e compensar o desmatamento na Amazônia Legal, o governo planeja dar uma anistia a quem derrubou ilegalmente a floresta.

Pela medida em estudo nos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, empresas e agricultores poderão manter 50% das fazendas desmatadas, voltar à legalidade e ter direito ao crédito agrícola oficial se aceitarem recuperar e repor a floresta dos outros 50% das propriedades.

Feitas as contas, se a decisão for adotada, o governo vai legalizar em torno de 220 mil quilômetros quadrados de Amazônia desmatada ilegalmente, uma área correspondente à soma dos Estados do Paraná e Sergipe.

A obrigatoriedade estabelecida no Código Florestal, de manter reserva legal correspondente a 80% do tamanho do imóvel, podendo desmatar e produzir nos demais 20%, continuará valendo para quem não derrubou a mata ou para quem adquirir propriedade nova.

“O dano ambiental já ocorreu, a área já está desmatada. Esse é o fato. Permitir que a recuperação nas áreas de uso intensivo seja de 50% é uma forma de diminuir a pressão por novos desmatamentos”, disse ao Estado o secretário-executivo do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, um dos defensores da idéia.

Embora a medida funcione como uma anistia, o secretário não aceita essa definição. Para ele, trata-se de uma medida excepcional, destinada a resolver um problema urgente.

No final de janeiro, Capobianco divulgou dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) segundo os quais em novembro e dezembro houve aumento de desmatamento na Amazônia. “Situação excepcional” O secretário admite que haverá tratamento diferenciado para quem desmatou e para quem preservou a floresta. “Há áreas desmatadas, que são classificadas de uso intensivo, tanto por pastagens quanto por agricultura. O que se discute é a possibilidade de uso maior de parte da propriedade, hoje fixada em 20%. Nesse caso em estudo, poderá chegar a 50%. Mas essa é uma situação excepcional.”

Para o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, a medida a ser tomada pelo governo é fundamental para enfrentar o desmatamento em definitivo.

“A alternativa é uma forma de levar a paz ao campo e, enfim, resolver o problema do desmatamento na Amazônia”, disse. “O proprietário de terras se sentirá incentivado a não fazer novos desmatamentos, pois contará com área suficiente para desenvolver suas atividades econômicas. O raciocínio do governo é de que a anistia funcionará, na prática, como uma punição, enquadrando quem desmatou fora do critério de preservação de 80%, e hoje trabalha sem cobertura vegetal nenhuma, pois o obrigará a repor até 50% da mata destruída.

Entre o zero de floresta e a recuperação de 50% das matas, o governo considera que haverá um ganho considerável, mesmo que, para isso, tenha de abrir exceções.

De acordo com dados oficiais, dos 5 milhões de quilômetros quadrados da Amazônia Legal, cerca de 730 mil quilômetros quadrados - 73 milhões de hectares - já foram derrubados.

O governo não tem números exatos sobre o tamanho do desmatamento ilegal, mas calcula-se que, do total de floresta derrubada, pelo menos 80% disso está nessa categoria, ou seja, cerca de 580 mil quilômetros quadrados.

Levando-se em conta a exigência de que a recuperação das áreas degradadas chegue aos 50% do tamanho da propriedade, a anistia poderá alcançar 220 mil quilômetros quadrados de desmatamentos. Benefício e impunidade

Entre especialistas, há dúvidas quanto à eficácia da medida que o governo estuda tomar. “Se a decisão não vier acompanhada de outras medidas, como o controle do crédito e a punição para os que agem na clandestinidade, não resolverá nada”, diz Adalberto Veríssimo, diretor e
pesquisador sênior do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

Para ele, a perspectiva de anistia para quem desmatou é ruim do ponto de vista da iniciativa do governo. “O debate é salutar, mas a anistia não”, afirmou. “Os desmatadores ilegais sempre agiram pensando que um dia seriam beneficiados com ela.”

Segundo Capobianco, a intenção do governo é concluir os estudos para o projeto o mais rapidamente possível, talvez ainda neste semestre. “Técnicos dos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente têm feito reuniões seguidas. Quando concluírem os estudos, eles serão entregues aos ministros”, informou Capobianco. Em seguida, o projeto será encaminhado à
Casa Civil. Compensação: O secretário-executivo do Meio Ambiente disse ainda que a recuperação da área degradada não terá de ocorrer, necessariamente, na propriedade
de quem desmatou. “Ele poderá comprar uma área correspondente ao que falta para chegar a
50% do tamanho de sua propriedade e torná-la reserva legal. Poderá também adquirir áreas em florestas nacionais ou áreas de reservas federais, estaduais ou municipais e repassá-las para o ente federativo correspondente”, afirma.

Ele reconhece que o assunto é polêmico e que o governo tem de agir com cuidado. “Não vamos abrir as porteiras. Cada caso é um caso e será analisado assim. É preciso ver se os documentos do proprietário são legais, se não há grilagem.”

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) exigirá dos proprietários a origem dos documentos, se foram adquiridos de forma “mansa e pacífica”, ou seja, se o proprietário não recorreu à violência.

“É preciso entender que muitas pessoas estão nas áreas há muito tempo que há desmates antigos, que é ali que criaram famílias e é dali que tiram seu sustento. O governo não quer prejudicar ninguém. Quer é resolver esse problema de uma vez por todas”, afirma Capobianco.

Para ele, a forma mais objetiva de o proprietário mostrar que tem boas intenções é procurar o Incra para fazer o recadastramento. Os que não procurarem o instituto estarão, segundo ele, admitindo que vivem em situação irregular.

Manobra beneficiaria três estados.

A proposta do senador Jonas Pinheiro (DEM-MT), em tramitação no Senado, retira da Amazônia Legal os Estados do Maranhão, Mato Grosso e Tocantins. Com a mudança, as propriedades rurais dos três Estados não teriam de cumprir o limite de 80% de reserva legal.

Também fazem parte da Amazônia Legal os Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia, Roraima e Pará.

A Amazônia Legal, conceito criado em 1953, tem cerca de 5,2 milhões de km2, perto de 61% do território brasileiro. Entre 1970 e 1996, sua população cresceu cerca de 130%.

Ao apresentar o projeto, o senador Jonas Pinheiro deixou claro que seu objetivo é favorecer Mato Grosso. Ele lembrou que a criação de Mato Grosso do Sul, em 1977, representou perda para a economia de MT. A título de compensação, o governo integrou todo o território de MT à Amazônia Legal, pois se beneficiaria dos incentivos fiscais concedidos à região.

Mas, para Pinheiro, MT foi prejudicado, porque grande parte de sua cobertura vegetal, onde predominaria o cerrado, nada tem a ver com o bioma da Amazônia.

(O Estado de SP, 10/2/2008)

14. Amazônia e a Educação dos brasileiros. Continuação.

Reportagem de capa do jornal "O Estado de S.Paulo" de 10.02.2008, estampou em manchete: "Governo anistia devastadores..." , conforme transcrito no item 13 desse blog.

Como cidadão e como professor, gostaria de discutir as seguintes perguntas:

1) Anistiar quém derruba ilegalmente a floresta impedirá o desmatamento? Sejamos realistas.

2) Como voltar a legalidade após ter desmatado 50% ou mais de uma propriedade? Ou o proprietário vai contar que deixando apenas 25% da floresta será o bastante e seu loby conseguirá uma nova anistia?

3) Como trabalhar com preservação ambiental, ética ou moral na escola?

4) Quais as condições do planeta, devemos deixar para futuras gerações? Saara ou Atacama serão suficientes?

5) Quais sugestões poderemos propor diante de tamanho descalabro?

6) Porque Lula, seus ministros funcionários de todos governos indistintamente, inclusive politicos profissionais perpetuados no legislativo e juízes corruptos nas mais diversas instâncias, teimam em defender o capital em detrimento da vida, apesar de clamarem por votos prometendo sempre o contrário?

7) Não haverá reforma tributária suficientemente capaz de suportar a fúria avassaladora da instituição "corrupção" nos mais diversos níves de poder e sobrar o mínimo para a Educação e Saúde do povo brasileiro? Ora, se um profissional da segurança pessoal, mesmo da presidência, possui um cartão corporativo federal... Estou pessimista?

8) Devemos ser pacientes e nos conformarmos ou lutarmos com todas as forças, aliando-nos e ajudando a pequena parcela da imprensa entre os poucos que ainda tem voz, questiona e educa, nós incautos e sofredores brasileiros?

9) Que espécie de democracia é esta para que tanto lutamos, esperamos "ver o bolo crescer" e cada dia, ficamos indignados ou até já nem ligamos mais, as desigualdades que são noticiadas ou até vemos de fato em nosso dia-a-dia?

10) Desmatamento agora é premiado?

Sei que essa lista será extensa, se continuada. Vamos continua-la?


Envie esta mensagem para seus amigos e para seus inimigos. Quem saberá, consigamos uma sociedade melhor e mais justa, algum dia.

Manifeste-se, resgistre seus comentários no blog abaixo. Lembre-se, nós professores não somos os únicos culpados pela má educação geral do Brasil, não devemos assumir essa carapuça.

Saudações democráticas,


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

12. O problema não está nos números

“Seja qual for o desfecho das polêmicas em torno do desmatamento na Amazônia, alguns pontos parecem já claros” Washington Novaes é jornalista especializado em Meio Ambiente. Artigo publicado no “Estado de SP”:

Seja qual for o desfecho das polêmicas em torno do desmatamento na Amazônia, alguns pontos parecem já claros. O primeiro deles é quanto à confiabilidade dos números levantados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Além do depoimento do próprio ministro da Ciência e Tecnologia, que lhes atribui um índice de acerto entre 95% e 97%, e do manifesto da comunidade acadêmica, cientistas da Universidade Federal de Goiás que trabalham diretamente no monitoramento da Amazônia, consultados pelo autor destas linhas, também opinam na mesma direção.

Entendem eles que os dados do sistema Prodes costumam ser mais precisos, mas com a limitação de que só são apurados uma vez por ano. Os do sistema Deter, mais freqüentes (os últimos divulgados), “num primeiro momento costumam superestimar os números”, mas “em seguida eles são corrigidos” e também são confiáveis. Agora está sendo desenvolvido o sistema Detex, capaz de registrar o que acontece em áreas menores.

Na opinião desses cientistas, os últimos números anunciados “têm o mérito de ser o primeiro alarma quanto à gravidade da situação”, sem esperar pelo balanço anual. Mas seria preciso avançar mais.

Porque, na verdade, não existe um levantamento da situação fundiária em cada área - e sem ele o desmatamento é detectado, mas não se sabe quem o fez, não se pode punir, coibir, até mesmo porque a fiscalização governamental é extremamente precária, como muitos representantes do próprio Ibama têm reconhecido.

E também porque continua a falta de articulação na área com o Sipam/Sivam, que tem aviões equipados com radar e poderia ajudar muito no monitoramento. Mas, como os dirigentes desse sistema têm dito, jamais receberam qualquer pedido da área ambiental para essa ou outras tarefas.

Um segundo ponto está na evidência - demonstrada na mais recente crise - de que o País continua sem estratégia para a Amazônia. Pior ainda, a desejada “transversalidade” - que levasse todas as áreas do governo a incorporar em sua atuação as premissas ditas ambientais - está longe de ocorrer.

A prova maior é a divergência pública entre os ministros da Agricultura e do Meio Ambiente quanto à responsabilidade da soja e da pecuária no avanço do desmatamento. Mais grave ainda a divergência entre o presidente da República e sua ministra do Meio Ambiente, além das polêmicas entre esta e os governadores de Mato Grosso e Rondônia.

Pode-se lembrar também que ainda recentemente instituições e ONGs que participaram das audiências públicas para definir políticas na área da Rodovia BR 163 - de modo a evitar que seu asfaltamento favoreça mais desmatamento - publicaram documento dizendo que, quase dois anos passados, nada foi feito.

E tudo isso sem ainda chegar à desastrada fala em que o ministro das Estratégias de Longo Prazo propôs a construção de aquedutos para transpor águas da Amazônia para o Nordeste. Ou à incompreensível política governamental que concede juros subsidiados a projetos que têm como base o desmatamento.

É tudo muito preocupante. A pecuária está sendo apontada como responsável por 86% do desmatamento, com um rebanho bovino na área que corresponde a mais de um terço do total nacional, cerca de 75 milhões de cabeças. O próprio Ministério da Agricultura estima que a produção bovina ali cresça 31,5% até 2018 (já são abatidos mais de 10 milhões de cabeças por ano) e só 87 dos mais de 200 abatedouros na área são registrados.

Que se espera que aconteça na área dos problemas com a exportação de carne bovina pelo Brasil, se um terço da produção na Amazônia tem esse destino, segundo a Amigos da Terra? O Imazon também afirma que, dos 30,6 milhões de hectares desmatados entre 1990 e 2006, nada menos que 25,3 milhões se devem ao avanço da pecuária, ante 5,3 milhões da soja e de reflorestamentos.

Além de definir uma estratégia para Amazônia, muitos outros avanços terão de ser feitos. É inconcebível que a União não consiga monitorar/fiscalizar os 47% das terras do bioma que são do seu domínio. É nelas, principalmente, que ocorre o desmatamento. E, somadas às reservas indígenas e a outras áreas protegidas por lei, chega-se a mais de 70% da Amazônia Legal.

Também é preciso tirar do papel, da ficção, o monitoramento das reservas legais, que, em áreas de floresta tropical, precisam representar 80% das propriedades particulares. Da mesma forma, criar condições para que os assentamentos da reforma agrária deixem de contribuir com 18% para o desmatamento, segundo os levantamentos.

Em parte dos assentamentos mais antigos não poderia acontecer outra coisa. Sem recursos, sem assistência técnica, sem transporte, sem mercado para nada, aos assentados não resta senão remover a floresta para implantar pastos e alugá-los a um pecuarista - ou vendê-los e sair em busca de outro lote, contribuindo para o chamado “desmatamento itinerante”, registrado desde 1997 pelo relatório de uma comissão especial da Câmara dos Deputados.

Não faz sentido, igualmente, prosseguir na atual política de repassar a governos estaduais a competência para licenciar desmatamentos. Se é difícil para o poder central resistir às pressões políticas e econômicas, imagine-se no âmbito estadual.

Ainda mais lembrando que o poder político local sempre invoca o apoio da população mais pobre, que, por falta de alternativas, considera importantes fontes de geração de trabalho e rendimentos várias atividades ilegais - garimpo e desmatamento entre elas. Essas atividades há muito tempo são também um desaguadouro - pelas migrações - para problemas de regiões onde o desemprego é grave.

Se todos esses fatores não forem considerados na definição de uma estratégia adequada para a Amazônia, será pouco produtivo o espasmo regulatório mais recente, diante dos novos números. E podem ser esperados novos problemas na área das exportações de carne e grãos.

(O Estado de SP, 8/2)

12. O problema não está nos números


“Seja qual for o desfecho das polêmicas em torno do desmatamento na Amazônia, alguns pontos parecem já claros” Washington Novaes é jornalista especializado em Meio Ambiente. Artigo publicado no “Estado de SP”:

Seja qual for o desfecho das polêmicas em torno do desmatamento na Amazônia, alguns pontos parecem já claros. O primeiro deles é quanto à confiabilidade dos números levantados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Além do depoimento do próprio ministro da Ciência e Tecnologia, que lhes atribui um índice de acerto entre 95% e 97%, e do manifesto da comunidade acadêmica, cientistas da Universidade Federal de Goiás que trabalham diretamente no monitoramento da Amazônia, consultados pelo autor destas linhas, também opinam na mesma direção.

Entendem eles que os dados do sistema Prodes costumam ser mais precisos, mas com a limitação de que só são apurados uma vez por ano. Os do sistema Deter, mais freqüentes (os últimos divulgados), “num primeiro momento costumam superestimar os números”, mas “em seguida eles são corrigidos” e também são confiáveis. Agora está sendo desenvolvido o sistema Detex, capaz de registrar o que acontece em áreas menores.

Na opinião desses cientistas, os últimos números anunciados “têm o mérito de ser o primeiro alarma quanto à gravidade da situação”, sem esperar pelo balanço anual. Mas seria preciso avançar mais.

Porque, na verdade, não existe um levantamento da situação fundiária em cada área - e sem ele o desmatamento é detectado, mas não se sabe quem o fez, não se pode punir, coibir, até mesmo porque a fiscalização governamental é extremamente precária, como muitos representantes do próprio Ibama têm reconhecido.

E também porque continua a falta de articulação na área com o Sipam/Sivam, que tem aviões equipados com radar e poderia ajudar muito no monitoramento. Mas, como os dirigentes desse sistema têm dito, jamais receberam qualquer pedido da área ambiental para essa ou outras tarefas.

Um segundo ponto está na evidência - demonstrada na mais recente crise - de que o País continua sem estratégia para a Amazônia. Pior ainda, a desejada “transversalidade” - que levasse todas as áreas do governo a incorporar em sua atuação as premissas ditas ambientais - está longe de ocorrer.

A prova maior é a divergência pública entre os ministros da Agricultura e do Meio Ambiente quanto à responsabilidade da soja e da pecuária no avanço do desmatamento. Mais grave ainda a divergência entre o presidente da República e sua ministra do Meio Ambiente, além das polêmicas entre esta e os governadores de Mato Grosso e Rondônia.

Pode-se lembrar também que ainda recentemente instituições e ONGs que participaram das audiências públicas para definir políticas na área da Rodovia BR 163 - de modo a evitar que seu asfaltamento favoreça mais desmatamento - publicaram documento dizendo que, quase dois anos passados, nada foi feito.

E tudo isso sem ainda chegar à desastrada fala em que o ministro das Estratégias de Longo Prazo propôs a construção de aquedutos para transpor águas da Amazônia para o Nordeste. Ou à incompreensível política governamental que concede juros subsidiados a projetos que têm como base o desmatamento.

É tudo muito preocupante. A pecuária está sendo apontada como responsável por 86% do desmatamento, com um rebanho bovino na área que corresponde a mais de um terço do total nacional, cerca de 75 milhões de cabeças. O próprio Ministério da Agricultura estima que a produção bovina ali cresça 31,5% até 2018 (já são abatidos mais de 10 milhões de cabeças por ano) e só 87 dos mais de 200 abatedouros na área são registrados.
Que se espera que aconteça na área dos problemas com a exportação de carne bovina pelo Brasil, se um terço da produção na Amazônia tem esse destino, segundo a Amigos da Terra? O Imazon também afirma que, dos 30,6 milhões de hectares desmatados entre 1990 e 2006, nada menos que 25,3 milhões se devem ao avanço da pecuária, ante 5,3 milhões da soja e de reflorestamentos.

Além de definir uma estratégia para Amazônia, muitos outros avanços terão de ser feitos. É inconcebível que a União não consiga monitorar/fiscalizar os 47% das terras do bioma que são do seu domínio. É nelas, principalmente, que ocorre o desmatamento. E, somadas às reservas indígenas e a outras áreas protegidas por lei, chega-se a mais de 70% da Amazônia Legal.

Também é preciso tirar do papel, da ficção, o monitoramento das reservas legais, que, em áreas de floresta tropical, precisam representar 80% das propriedades particulares. Da mesma forma, criar condições para que os assentamentos da reforma agrária deixem de contribuir com 18% para o desmatamento, segundo os levantamentos.

Em parte dos assentamentos mais antigos não poderia acontecer outra coisa. Sem recursos, sem assistência técnica, sem transporte, sem mercado para nada, aos assentados não resta senão remover a floresta para implantar pastos e alugá-los a um pecuarista - ou vendê-los e sair em busca de outro lote, contribuindo para o chamado “desmatamento itinerante”, registrado desde 1997 pelo relatório de uma comissão especial da Câmara dos Deputados.

Não faz sentido, igualmente, prosseguir na atual política de repassar a governos estaduais a competência para licenciar desmatamentos. Se é difícil para o poder central resistir às pressões políticas e econômicas, imagine-se no âmbito estadual.

Ainda mais lembrando que o poder político local sempre invoca o apoio da população mais pobre, que, por falta de alternativas, considera importantes fontes de geração de trabalho e rendimentos várias atividades ilegais - garimpo e desmatamento entre elas. Essas atividades há muito tempo são também um desaguadouro - pelas migrações - para problemas de regiões onde o desemprego é grave.

Se todos esses fatores não forem considerados na definição de uma estratégia adequada para a Amazônia, será pouco produtivo o espasmo regulatório mais recente, diante dos novos números. E podem ser esperados novos problemas na área das exportações de carne e grãos.
(O Estado de SP, 8/2)