domingo, 29 de junho de 2008

Caminhando...

O Cursinho, iniciando.

Jornal, rádio ou TV, assim como, demais meios de comunicação, tratavam diariamente da violência urbana e especialmente da violência no Jardim Ângela e no Capão Redondo, periferia do estremo sul da cidade de São Paulo.
Eu lecionava matemática na Escola Estadual José Lins do Rego, mas os alunos, ao menos uma boa parte deles, não estavam nem aí para o que era explicado.
Anos 90, dez anos após a derrubada da ditadura militar, vivíamos a plenitude da liberdade, porém os alunos já não entendiam e não aproveitavam o saber, o conhecimento oferecido, sem qualquer custo, financeiro ou econômico exigido por nós professores. Aliás, um único custo necessário era e como sempre, é apenas a atenção e as anotações para que auxiliem a evitar o esquecimento do conteúdo, mesmo porque já somos pagos pelo poder público, ou seja, por eles mesmo de forma indireta.

Meus alunos, não sabiam da necessidade de ir à escola. Como hoje, a grande maioria dos alunos daquela época, também não tinham essa concepção de que a melhor forma de auferirmos renda, melhorarmos e ultrapassarmos as barreiras econômicas e sociais é e sempre será a educação formal em primeiríssimo lugar. Seguido do aprender sempre, aprimorar-se e informar-se a cada passo dado. Claro que estou me referindo às formas legais, em que dependemos apenas de nossos próprios esforços.

Cansado de malhar em ferro frio, de tanto reclamar e conclamar a atenção, recebi como agradecimento, uma cadeira que arremessada chegou aos meus pés, por pouco não fui atingido. Os pais do garoto foram convocados, sua mãe compareceu a escola. Recebi um pedido de desculpa e o garoto foi convidado a mudar para uma outra escola. Ao menos dessa vez, um dos responsáveis apareceu. Muitas vezes não dão ouvidos, não comparecem as reuniões de pais ou sequer procuram saber sobre o rendimento escolar dos seus filhos. É claro que também compreendo as dificuldades desses pais de família, trabalhando arduamente, muitas vezes distante de sua residência, chega cansado, no caso da mulher, cansada e prestes a iniciar a segunda ou terceira jornada, que é a de cuidar das tarefas domésticas, dificilmente tem coragem e vontade para preocupar-se com os afazeres escolares dos filhos.

Vida sofrida, carente de quase tudo, inclusive e principalmente dos recursos financeiros tão necessários para a sobrevivência digna de todos nós. A TV é o refúgio, o circo capaz de conter, aplainar e até barrar as indignações sofridas diariamente nas mais diversas circunstâncias. Desde a ditadura comandada pelo chefe, quando empregado é claro, o trânsito congestionado, o ônibus lotado, as filas constantes, a impaciência dos transeuntes e pedestres, a demora do semáforo quando fechado, o veículo que desrespeita o farol vermelho justamente quando possibilita a nossa passagem. Tudo isso procuramos esquecer, observando o circo propagando na TV através dos mais diversos programas, inclusive da novela, vendo pessoas bonitas, ricas e felizes. Lazer? Além da TV, a cerveja no bar, o cigarro entre os dedos? O futebol? Na TV principalmente porque no estádio fica realmente bem mais difícil porque é caro o preço do ingresso, o custo do transporte além do tempo para o deslocamento. Principalmente quando no horário noturno, porque a partida só começa quando termina o capítulo inédito da novela das 21h.

Muitas vezes me pergunto, porque será que os americanos assim como os europeus, dos filmes, estão sempre felizes, tem dinheiro para o que desejar comprar, têm casa grande e com todo o conforto, além de bela piscina. Exatamente o oposto das residências da periferia de Sampa cujo padrão é a casa com apenas três cômodos, sem reboque, pintura ou telhado, sempre inacabado.

Pagamos tantos impostos, e o saco sem fundo do tesouro nacional nunca tem os fundos suficientes. Apenas os políticos ganham muito bem e sempre conseguem reajuste dos vencimentos. Muitos, senão a maioria dos políticos, está ligados a esquemas de corrupção, superfaturamento de obras e até expropriação de parte dos salários de subordinados para formação e manutenção de caixa de partidos políticos. Imagino a corrupção que deve existir no Banco Central! Pagamos uma soma exorbitante de juros. No momento, o montante anual de U$ 180 bilhões. A instituição pode reduzir a taxa de juros para que o país pague menos. Mas, o presidente do banco central, prefere aumentar a taxa de juros para que os banqueiros se apropriem desses recursos os quais faltarão para a saúde e a educação que tanto necessitam. Culminamos, entregando o banco central do país, ao próprio banqueiro. Ou seja, entregamos o galinheiro para o gavião.

Neste clima, incentivei muito aos alunos para fazer cursinho pré vestibular, principalmente aqueles populares, que podia ser financiado sem muito sacrifício por essa população carente. Nessa época, meu filho mais velho, após fazer um desses cursinhos, foi aprovado em três, das três universidade públicas que prestou vestibular.

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